O computador está lento como uma tartaruga. Ou talvez seja a internet. Eu não me importo, estou lento como uma tartaruga. Os pensamentos, os pensamentos estão lentos. Estagnados. Empoçados.
Lembro da alegria de Mautner em resumir a vida na simples assertiva de que só a alegria é séria: a tristeza não tem seriedade posto que foge da vida; a alegria é a apreensão profunda que deseja o eterno retorno de cada momento, e por isso existe integralmente (a tristeza desmancha)
Nem todo mundo é apreciador do silêncio, ou do sol batendo, ou de caminhar algumas quadras distraído. Mas aí é uma alegria tão sutil que quase some, gosto que nos deixa na boca uma lembrança boa...
Por que não a vida ser ela mesma alegre e eu somente me deixar carregar por ela? Desse grande arbitrário que é a roleta caos dos encontros. Desse caos desse ininteligível. E submeter-se a ele, aceitar somente aceitar toda essa Razão ininteligível... ou preencher o caos de sentido, de narrativa justificativa causas efeitos... deixe-me livre de tanto sentido...
Deixe-me livre de tanto sentido
Estar alegre e ainda assim estar de luto, estar alegre e ainda assim estar triste, dissolver a alegria num deixar-se levar pelo que o mundo alimenta... é uma alegria tão fina, ela quase some
Frente à resposta brusca da nossa cultura (então vá, tome uma atitude) eu me agarro a uma alegria incremental. Do incrementalismo e das finas alegrias sutis, livres de tanto sentido. Subir ao céu de gozo como a babel impossível, de respiração em respiração, acolhendo as feridas sem garantia de tocar nunca o infinito - apenas, gradual levitação, um pé de cada vez, e lá vamos um pouco mais...
Tristeza não tem fim: é que ela se desmancha, reticências alegres
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André Aranha
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