quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Para Amir

Hoje de manhã acordei e de repente estava lendo sobre o que é um tal microscópio eletrônico, e outros meios mais de VER vírus, moléculas e DNA. Tentei entender o mecanismo mas são tantos níveis de abstração, parece que o trabalho está inteiro por fazer... Digo o trabalho de traduzir, o que os cientistas dizem que fazem, para uma descrição do que eles fazem em termos mais... materialistas? empiristas? fenomenológicos?

Nesses anos pra cá eu não sou muito versado em história da filosofia apenas fico mastigando meia-dúzia de conclusões fantásticas. Pois acho que li (ou desli, lire et dé-lire) o Michel Serres falando de planetas junto de átomos, a analogia tem uma familiaridade mas nunca vi explicarem isso. Do meio-dia ao norte (relógios e bússolas), do sol ao átomo com seus elétrons gravitando (do sujeito e seus objetos rodeando), são molduras, que impomos ao mundo.
Sendo uma abstração instrumental, essas conclusões sobre a última astronomia ou a primeira reação química, antes de traduzirem a essência do mundo, são apenas o horizonte dos nossos cálculos. Boto um óculos mais potente, não me enxergo melhor (para isso é melhor fechar os olhos).
Dito isto, eu não sei o que é um feixe de elétrons demagnizando um íon polimerizado ou seja lá o que eles dizem que estão fazendo naquele microscópio que não usa luz mas ímãs. Não adianta fotos do vírus ou da molécula de RNA, eu sei que no meio do caminho houve um salto de abstração: não "acharam" o covid-ele-mesmo; acharam uma alavanca na imensa engenhoca que eles movimentam, e tentam mover a alavanca.
E, do outro lado, não adianta fotos da terra globo, missões a marte, sondas ao universo profundo; a terra é o ilimitado chão que tudo sustenta, o universo é maciço não é vácuo, a vida brota de baixo para cima. E aí vêm as teorias de cometas (o próprio Newton já gostava) outro dia vieram falando que a vida veio de cometas, ou que a água veio de cometas. Que a doença vem de vírus, são pequenos pólens que eles rastreiam, transitando entre massas de matéria receptiva.
Então eu não páro de ver por toda parte a repetição do paradigma patrilinear de identificação da origem: pelo pólen, não pelo receptor. Esse o lado dinâmico. E no lado estático, a concepção do universo por uma figura ex machina de arquiteto com um olho externo ao humano, um olho trans-escalar: eles aboliram a escala, tornando a grandeza uma questão de repetição, e erguem um olho macro-humano ou micro-humano para olhar, como um objeto de dia-a-dia, o átomo ou o sol.
O sol!!! essa mancha impossível, eu vou te dizer, tentando voltar a mim, a encontrar minha escala, que o sol simplesmente não é real, ele é uma ilusão, a ilusão; não me venham fazer maquete em que ele é uma laranja (por que ele é do mesmo tamanho da lua?) ele não existe, ele é o ponto zero cartesiano das minhas coordenadas oculares, o sol é meus olhos; quem disse que o dia é causado pelo sol, e não o contrário, o sol é a borra do dia, o seu umbigo ou seu cu, o sol um buraco onde a luz cai (quem diz que a luz não vai de mim para ele?)
E a doença, meu corpo virando demônio como uma terra brotando erva-daninha, fecundada sim por todas as pás como tudo o é, ininterrupta geração espontânea e eles traçando o pedigree do podre, para criar um inseticida mais potente. Daí decobrem que mais e mais doses da vacina também ajuda, olha acho ótimo tomar sua vacina, só que vocês simplesmente não sabem o que está acontecendo. Carga viral... vai virando uma coisa quantitativa, estatística, uma massa de ruído ao levar ao extremo o uso das alavancas patrilineares do arquiteto
Ah o átomo, como era? no início da física? clinâmen...
Não sei, estou de saco cheio desses sabe-tudos que cagam regra ininterruptamente enquanto o mundo se submete cada vez menos ao que dizem. Gosto dos quadros da Elizabeth segurando um globo terrestre, e saboreando o quanto aquela astronomia lhe empossava enquanto imperatriz do conhecimento. Um conhecimento direto, pré-Kant, que em cada novo binóculo foca melhor o Ser (à sua imagem e semelhança)
Fico laboriando essas ideias vagas e inquietações, muito insatisfeito com a arrogância do discurso dominante, e compreendo tanto negacionismo e conspiração emergindo: é porque eles não fazem o que dizem! O rei ciência está nu, mas estamos terrificados com a brutalidade da anarquia. Com Latour, sempre; e tenho tido simpatia, sem voltar a ler, pelo Immanuel de Königsberg e seus espaço-tempo e tudo mais que poderia estar nos óculos, e aquelas ideias como atratores do pensamento, e enfim a essência só atingível por outros meios (fecho os olhos)
Mas num sentido mais prático, de colocar microscópios e telescópios em seu lugar, seria isso fenomenologia?

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