sábado, 6 de fevereiro de 2021

Fora Whatsapp!

Não sei se vocês lembram do Tamagochi, aquele brinquedo dos anos 90. Novidade eletrônica, parente de Gameboy. Muito antes do celular, lembro que médicos e pessoas importantes tinham um pager que bipava. Agentes secretos tinham Walkie-Talkie. E as crianças brincavam com Tamagochi.

Era um aparelho pequeno, com um bichinho na telinha que você podia criar. Ele exigia comida e brincadeiras, periodicamente, e ficava apitando quando tinha fome, ou tédio. Para atender a isso, bastava ficar apertando os botõeszinhos, e vendo a animação tosca de pixels se fartar. Bichinho virtual.
Tenho essa sensação de que o Tamagochi não foi embora, ou que é ele o elo perdido que explica essa evolução estranha que não entendemos mais. É como se - talvez seja exatamente isso - o Tamagochi tenha crescido. Mudou de nome, é claro. E engoliu meus amigos.
Amigos, de uns tempos pra cá (digamos 10 meses, quase 11, não sei por quê) são coisas parecidas com links - são aplicativos dentro de uma telinha do console - são bichinhos virtuais que eu alimento apertando botõezinhos. E tiro uma satisfação limitada disso.
Que diferença um gato de rua que faço carinho, e aparece querendo um prato d'água; que diferença o gambá taciturno, aproveitando a permissão tácita da noite para fuxicar o jardim; que diferença esses pesadões humanos que ainda encontro e balanço a língua em palavras cospidas (acho que estou ficando mais surdo, mais embrulhado na fala, mais distraído) e às vezes pingam suor e cheiro rindo.
Nada disso: agora só whatsapp. Nunca escrevi tanto na minha vida. Amizades verbais. E memes. Stickers. Amizades hieroglíficas, ô tempos... O Tamagochi agora se chama Smartphone e a fome dele é um númerozinho verde no aplicativo, quanto tempo eu gasto contigo...
Mas que inferno isso!!
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andré aranha

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