domingo, 1 de maio de 2022

 

Vem por aqui, dizem-me alguns
com olhos doces
esperando certos e seguros de que seria bom que eu os ouvisse.
Quando me dizem: vem, vem por aqui
Eu olho-os com olhos lassos
e há nos meus olhos ironias e cansaços
eu cruzo os braços
e nunca vou por ali
A minha glória é esta
é criar desumanidade em não acompanhar ninguém
porque eu vivo com o mesmo sem-vontade com que rasguei o ventre à minha mãe
Não não vou por aí
eu só vou por onde me levam meus próprios passos
Se vim ao mundo foi somente para desflorar florestas virgens e desenhar meus pés,
na areia inexplorada
O mais que faço,
é quase nada
Como pois sereis vós que me trareis machados, ferramentas e a coragem para cumprir meus obstáculos?
Corre nas vossa veias
o sangue velho dos avós
e vós amais o que é fácil
Eu amo o longe e a miragem
amo os abismos, os desertos...
Ide,
tendes estradas,
tendes tratados,
tendes filósofos,
tendes sábios, Eu
tenho a minha loucura
e levanto-a como um facho
a arder na noite escura
e eu sinto cântico nos lábios
- cântico negro
lido por maria betania
lembrado meio erra

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