Aprofundando na senda de Hermes, nos passos de mercúrio. Vida de hermes, vida maldita, mal-dizida: biografia mal-escrita, cheia de barrigas e dúvidas divididas. Vida de Hermes mensageiro, levando recados para os outros, perdido nos mapas e nomes. O que está no meio entre duas pontas que nunca se dão: entre dois abismos. Entre o nada e o nada, o ser, entre o oco e a morte lá fora, hermes, mensageiro, atravessando.
Foi assim perdida a Lição de Babel. Que a torre única que reunisse todo o povo - a arquitetura una, a unidade da língua sob um edifício, um único saber um único ser "que se alça aos céus" acima - destruída, a torre caída que vivemos e Babel borbulhante de autofecundação da ruína habitada: Babel a poliarquitetura de saberes, polifônica com suas “muitas vestes”, poliglota cosmopolitéia, poliárquica definição reencontrada.
Babel esse mito, esse obelisco que esquecemos como quem, antes enxergando, perde o foco - e Husserl dizia como quem foca o olhar, e vê, no meio da erguida da Babel, vê lá longe, no horizonte, o outro: e daí funda a primeira horizontal, e daí funda a geofísica. Ele livrava a geometria do olhar dos céus, Husserl se debatia sob a revolução de copérnico. E percebia, com sobressalto: mas e antes, quando os mapas eram “daqui mesmo”? Quando a física era geofísica, antes de ser astral (antes de Newton e sua gravitação)? Antes de metrificarem o Pêso, antes de porem réguas na irresistível atração do Chão, na geoarquia da Terra?
Husserl falava de voltarmos à temporalidade da terra, para quem somos o corpo que se move. Terra e corpos como as primeiras definições físicas, como uma física sagrada. E compreender essa escala (terra e corpos) e sacralizá-la como a "apreensão imediata" – âncora em meio ao mar de apreensões "mediatas" que temos, herdeiros de hermes, viventes de hermes mercúrios e suas mensagens e mercadores, o mediador marchando entre mercados, primo de marte...
Falávamos do chão e topamos com Hermes: curioso falar do 3 em um texto escrito linearmente (não estou relendo) e daí estar como que "prosseguindo, indefinidamente, cenário adentro" (como Babel, indefinidamente subindo). E daí se quero falar do 3 preciso ser como o "andarilho desmemoriado", que procura dar voltas incessantemente, e a cada novo caminho que penetra, experimenta-lhe todos os círculos que pode fazer, ainda que nunca em nenhum momento atinja o centro daqueles círculos, mas em todo momento estar apontando pontos de referência (é, afinal, um passeio) e em meio deles, apontar: veja, o obelisco?
- Está vendo ele? o Hermes? A própria letra?
Seguir a lição de Babel: a Babilônia do livro, a Bíblia é Babel, Báblia Bibléu, bolha bábila bíbila Bíblia Beleléu Babel Babel, o livro, A PRÓPRIA LETRA: seguir um texto de Hermes com sua bússola da ruína habitada, da torre derrubada: e o Norte aponta Mater Matéria em direção ao abandono da forma letra, e mergulho no analfabeto, no além letras: o solo nu (gravidez gravidade, matriz chão, o amorfo, ilimitado)
Nenhum comentário:
Postar um comentário