quinta-feira, 17 de junho de 2021

Chuvosa manhã de inverno

Olhando longe, lá nas árvores e no morro, tudo riscado por esse véu de cinza-branco: e o som de chhh chóóó bem suspiradinho mas vezes mil. Acordei manhã bem cedo e além disso os passarinhos-grilos, por toda parte. Mil pontinhos: como um cobertor que tudo envolve, chove nas plantas.

E frio. A poucos dias do solstício de inverno, o sol muito encolhido, e as massas frias de vento chuva, esse céu cinza descendo em gotas como fragmentos caídos, em monte, em levas. Vento desenhando nos riscos descendo, e o som: quando ela aumenta chááá quando diminui silêncio.
Um cobertor: todo som abafado, tudo amortecido e: vitória absoluta de eu estar no quentinho, no protegido, assistindo. Fico tão contemplativo. Está bem forte agora, e de lado, inclinado: de manhã cedo era impossível levantar, e tão delícia ficar te ouvindo, só assistindo. O sono, indescritível atavismo de milênios contemplando a chuva, e os pássaros alçam voo, coitados: agora está bem forte e o vento forma ondas desenhadas no ar, como o mar posto em pé e as ondas batem de lado na minha janela.
Contemplar a chuva, de mente vazia como um cobertor: simples momento, infinito. Aqui, está tudo: e todo o resto, a pilha de gatilhos, é abafado no grande chááá que exibe claro: não tem nada além de agora, aqui, e é só isso um dia a cada dia, saborear as belas coisas em meio à tempestade.
- andré aranha

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