É no fundo uma questão religiosa, pois trata-se da demarcação do milagre no mundo, e de sua ausência. Pasteurizaram o mundo, demarcando-o desencantado, não-milagroso. Uma máquina de mecanismos desalmados, rangendo sua inércia limpa. Como esvaziando a sala de seu ar, em busca do inexistente: povoaram o mundo de vácuo entre átomos. Perdidos no sexo dos anjos Alma e Matéria, traçaram a fronteira rígida de onde começa a cosmogonia - criação do mundo - e a deixaram silente. Big Bang não inicia nada, não explica nada. É no fundo e sempre uma questão sobre a origem das coisas, se nada se cria, ou se existe uma criação infinitesimal mas abundante. Voltar a incluir as ilhas dos bem-aventurados - a utopia - como um horizonte terreno: Gênesis no presente, deus não se ausentou, pan-divindade. O ato genético inaugura utopia no mundo, criando o movimento: Aquiles ultrapassa a tartaruga.
domingo, 27 de junho de 2021
quinta-feira, 17 de junho de 2021
Chuvosa manhã de inverno
Olhando longe, lá nas árvores e no morro, tudo riscado por esse véu de cinza-branco: e o som de chhh chóóó bem suspiradinho mas vezes mil. Acordei manhã bem cedo e além disso os passarinhos-grilos, por toda parte. Mil pontinhos: como um cobertor que tudo envolve, chove nas plantas.
Um cobertor: todo som abafado, tudo amortecido e: vitória absoluta de eu estar no quentinho, no protegido, assistindo. Fico tão contemplativo. Está bem forte agora, e de lado, inclinado: de manhã cedo era impossível levantar, e tão delícia ficar te ouvindo, só assistindo. O sono, indescritível atavismo de milênios contemplando a chuva, e os pássaros alçam voo, coitados: agora está bem forte e o vento forma ondas desenhadas no ar, como o mar posto em pé e as ondas batem de lado na minha janela.
Contemplar a chuva, de mente vazia como um cobertor: simples momento, infinito. Aqui, está tudo: e todo o resto, a pilha de gatilhos, é abafado no grande chááá que exibe claro: não tem nada além de agora, aqui, e é só isso um dia a cada dia, saborear as belas coisas em meio à tempestade.
- andré aranha
quarta-feira, 16 de junho de 2021
Basear a filosofia por sobre os temas mais simples da percepção: colocar-se nos olhos do lago e brincar com seus vizinhos, borrar as palavras com o universo de outro corpo.
Jamais o exagero de imagens vazias dos românticos: por mais que bonitas, não revelam lógica intrínseca, são isoladas umas das outras. A realidade-nuvem é regida por extensas leis de comportamento.
- E se as nuvens não são um banquinho, pra gente lamber o céu?
- Não seria o capim longos cabelos da terra, onde o vento escreve? Quando dizem das plantas não terem movimento próprio é por desconsiderar a brisa como parte de seu corpo.
Como escrever o mundo concretizando metáforas românticas, que o mar seja mesmo vinho e embriague? Se teus olhos forem estrelas, a noite está repleta de mulheres no escuro.
- andré aranha, 2007
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