quinta-feira, 29 de abril de 2021

As contas do Rio de Janeiro (um devaneio completo)

Fico dividido ao estudar as contas do estado do Rio... De fato, a economia (o mercador, a troca) passa bem por aí: o ponto de vista dividido (como se o ponto de vista "envesgasse" ou focasse os olhos na linha d'água, na altura intermediária em que não se está dentro nem fora da liquidez) em que o gasto de um é a renda do outro, o custo de um é a riqueza do outro. E o "crescimento" passa bem por aí, o princípio genético está no atravessar de um lado a outro, de sair do dentro para o fora e atravessar o mercador e a liquidez da reprodução do dinheiro no tempo.

No Rio de Janeiro, porto de água. Escoadouro, estuário do leste sulamericano que se manteve unido e fortemente centralizado (como fez o leste da norteamérica, columbia), capital monárquica e republicana. Centro intelectual do continente, com suas universidades; polo independente, pequeno geograficamente, em relação aos vizinhos Minas e São Paulo, em relação ao jogo do polo nordestino de Pernambuco e Bahia, ou já na costa do norte, o Grão-Maranhão vizinho a esse sul-amazônico Brasil menos holandês. Uma Buenos Aires com repartição dos poderes: Rio São Paulo, e seu insulamento geográfico das corporações, das burocracias (assumindo que as empresas privadas também são burocracias - organizações racionalizadas (no sentido de Weber)).
Capital de mídia, e de políticos (ainda que completamente arrasada há décadas: palco de escândalos dessa pátria carnaval-sambo-futebolística noveleira verde amarela. Palco da histórica de uma imensidão territorial impressionante, das marcas de uma presença que depois se transferiu para um centro burocrático planejado (Brasília) em meio ao urbanismo concreto-automobilístico idealista da Barra e Recreio, da Cidade Universitária no Fundão...
Essa terra com a Baía de Guanabara (que teve ondas de 5 metros outro dia) e tantas praias praias praias (lugar amado) e sua Lapa.
Restam dois campos, no Rio midiático:
- o liberal sem nenhum projeto, só a "liberalização" cada vez maior
- o social querendo escolas e hospitais, salários, aposentadorias e o fim do regime de emagrecimento dos liberais. Que dizem "se soltou" sobretudo nos anos 1980, como a causa da inflação - a expansão do funcionalismo público, mal-compreendido como um papelismo irresponsável provocando vazamento infinito de ouro: criador da careza do câmbio (e a dívida externa, 1982, 1987, desde o choque do petróleo OPEP e dos bancos de Nova York). O culto liberal que se baseia num horizonte moral visto da cidade pequena - válido para a ação imediata de um indivíduo - mas perdido sem mapa numa terra de dinastias - pois toda economia, como reprodução, se trata de dinastias em territórios : o oikos é a casa - a propriedade rural - o grande Senhorio do Nomos, a administração racionalizada. Só que a ciência econômica necessita se basear também na ciência do Macro - a ciência da reprodução - o envesgamento de conseguir atravessar DOIS indivíduos em ambas as direções ao mesmo tempo - atravessar o conceito de mapa, indo de encontro ao X, o cruzamento (o mercador que faz a troca, a moeda que circula) o banco.
E muito da economia sendo levada por uma terceira coisa, nem social nem liberal. As dinastias de corporações, de oligopólios e estamentos sociais - num espaço.
O estado do Rio, ora brincando de vender o fornecimento de água, num país em que o crescimento se tornou a aposta completa no pólo liberal, sem nenhum outro.
Por que não vinculamos os lucros do pré-sal à CEDAE, e pronto? Por que não vinculamos o endividamento do estado, a longo prazo e com boas condições de pagamento (juros subsidiados), para investimentos na CEDAE? Se temos Banco Central independente, por que não CEDAE independente? Pública e independente? Pegando dívida para essa instituição (o Banco Central, a Cedae) requisitar o "ouro" do público (da república, a coisa pública que engloba as privadas (os oikos))
Acusam de patrimonialismo: patrimonial é o domínio do patrimônio (em oposição ao eixo matrimônio da reprodução corporal) da reprodução do capital (no limite, o ouro, o banco); vem do patriarcalismo histórico (herdeiro dos domínios paternos sobre os filhos, instituída a patrilinhagem da genealogia); patrimonialismo seria a extensão desse domínio privado sobre o alheio (a invasão da coisa pública). Curioso ser um conceito de invasão - de atravessamento - de cometimento do pecado que a economia liberal (cega ao mercador, e ao atravessamento que a moeda faz) e portanto umbilicalmente necessário (se me permitem a expressão) à reprodução patrimonial, e portanto econômica das classes produtoras.
Identificada a patrilinhagem no discurso (e seu vício monetarista, em seus mitos sobre o verdadeiro "ouro") no parágrafo acima, basta executar o procedimento materialista (no sentido originário, trimegisto) de se transferir à linhagem matrilinear (envesgando as narrativas individuais, trançando o tecido da genealogia econômica, atravessando cada gasto ser uma renda, de uma mão para a outra: em uma palavra, enxergando, realmente, a moeda que temos nas mãos (é tão difícil olhar realmente para ela, numa palavra: flagrá-la))
E não é a água, o futuro?
"Tudo é água" Tales de Mileto
E na liquidez (eu mergulho) dos ativos, das ações, dos capitais investidos - os capitais "sociais" das empresas, essas represas, esses oikos - momentos de repouso da moeda em sua circulação por espaços estanques - os patrimônios...
E para os que enxergam a cunhagem das moedas (que vem antes das impressoras de "papelada"), o artíficio da Cunhagem é antes Metalista (e não especificamente "ourista"); a Metalúrgica (e hoje a química, a plástica, a híbrida, a mineral, a agrícola) a criação de ouro através do tempo (ouro, como um pólen fecunda, um vírus que vem do alto e se reproduz na matéria, mas voltemos à matrilinhagem) e de onde, senão de escolas, hospitais, de autonomia da água, de garantias humanas nesse futuro inóspito que se apresenta? Das verdadeiras "indústrias" que o futuro do "desabamento" vai demandar, na nova fase humana que se anuncia, os tempos da hiperindustrialização em meio ao cataclisma... Os mares vão subir, porra!!!
E dito isto, para onde largaremos desenfreadas as energias produtivas do nosso povo? Senão na água e no saneamento?!!
O poderio do Brasil em termos de atingir objetivos nacionais é impressionante, ainda que os "objetivos" fiquem mudando e a nação se perca louca no tempo atingindo miragens com sua fúria produtiva e criativa (enquanto mal consegue conter a fera, a figura ultra-polinizada do capital desenfreado, do invasor (e não do mercador) do oikos, da abolição contrária (ao atravessamento genético do mergulho patrilíneo na matrilinhagem), do princípio mortal, letal (em oposição ao princípio materialista, matrilinear)
O SUS é imenso, globalmente falando
E o "Globo" só tem províncias (o mapa, como a tela, é plano, senão seria maquete 3d (trimegista triângula trimétrica))
Atravessamos o globo como o sol
Façamos a luz (que se faça a luz) acenda um fósforo FIAT
Façamos a luz atravessar a noite reencontrando a raiz astronômica da palavra nomia (essa autonomia)
economia: autonomia e gastronomia (crescimento interno e invasão mercadora) em um mapa astronômico (o território terra corpo aqui agora; a economia existe, antes de mais nada)
INCIPIT METERII

terça-feira, 20 de abril de 2021

7 DE ABRIL, DIA DO FEDERALISMO BRASILEIRO

Pode-se dizer que o federalismo brasileiro começa no 7 de abril de 1831. Segundo Rui Barbosa, o 7 de abril completa a Independência do 7 de setembro, proclamando a soberania nacional acima da monarquia. Em 1831 o Brasil se emancipa da colonização - o Brasil enquanto soma de poderes locais, regionais - e expulsa Dom Pedro I.

A federação Brasil então coroa seu Poder Moderador. A opção unitarista que se segue ao 7 de abril, que levaria ao Império parlamentar (com Conselho de Estado e Senado vitalícios), passou sim pela balança ter pendido mais para o Sudeste (do que para o Sul e os farroupilhas de tradição militar 1835-45 (e que depois se integram bem); do que para o Norte e Nordeste, 1817 Pernambuco, 1824 Confederação do Equador, 1840 a derrubada dos regressistas nortistas). Mas se o fracasso do secessionismo nunca estava garantido, a maior defesa contra ele era a própria longevidade do sistema unido, com um centro articulador. O 7 de abril foi o nascimento do federalismo enquanto pacto, mas sem abdicar da unidade nacional. Lembremos, o centralismo já em 1837 foi puxado pelos próprios nortistas.
De lá para cá, se Vargas queimou as bandeiras estaduais em 1937, tirou o nome Estados Unidos do Brasil e prendeu os grandes coronéis baianos; mas se o federalismo foi restabelecido e vigoroso em anos dourados até o golpe; o colapso do federalismo brasileiro a partir de 1965 é um problema. Foi aliviado de maneira tutelar pelo municipalismo da Constituinte, enquanto o respiro dos governadores de 1982 a 1993 (em meio à submissão da dívida externa) não floresceu numa retomada federativa. Passamos agora em centralismo monetário, BCB e presidente, sem reavivar a construção escalar do poder regional, das articulações que mediatizam relações supra-locais.
Desde o "sistema" coronelista da República Federativa de 1891, que Nunes Leal mostrou ser a articulação escalar de poderes locais com município, voto e as bases da política de governadores; mas desde antes, desde o 7 de abril de 1831 e a subsequente criação da Guarda Nacional descentralizada como remédio para a expulsão do exército português; desde o 7 de abril o Brasil pode ser caracterizado como um federalismo: articulação TRANSACIONAL (e não de subordinação) entre unidades que preservam sua autonomia.





domingo, 18 de abril de 2021

Atura ou surta

Tenho a vizinha que, todo domingo, bota um som altíssimo no repeat e às vezes pega no microfone pra cantar. Soma-se a ela uma igreja animada, realmente carismática porque é muita gente que a enche, e dá-lhe terças-feiras se exaltando no microfone. Tem obras e furadeira e serra, tem algum motor que quando arranca parece que o morro inteiro vai levantar, tem...

Tudo isso está muito bem e complicado, mas o que eu queria dizer é: não é do meu lado!!! Que motivo de alegria, sem mais. O barulho não é insuportável, e as janelas oferecem um bom vedamento. Quer saber, o principal: 9 da manhã a vizinha pega o microfone e grita para a outra vizinha: "Juliaaa!!! Atura ou surtaaa!!!!"
Que bom que eu não sou essa Julia! Quando fecho bem a janelinha aqui, ligo meu ventilador, e estou cá no apartado-apartamento livre dessa barulheira infernal. Então o karaokê termina, a igreja fecha no fim do dia, a obra pára: e vêm os grilos, as cigarras, as árvores se balançando. Hoje de manhã, em meio ao tuntztuntz, eram tantos passarinhos!
Meio cheios ou meio vazios, sempre cheios, nem que seja de ar.

domingo, 11 de abril de 2021

O futuro é dos mosquitos

Tenho certeza: se você pegar uma máquina do tempo e aterrissar em 2150 vai ser comido por uma barata gigante sem ter tempo de dizer "DDT". Baratas são besouros mais feios e marrons de maneira desagradável, mas se por um golpe de sorte implausível você escapar das garras daquela besta doméstica, outros besouros estarão esperando em fila para te pegar.
Sim, o futuro é dos insetos, insetos gigantes, por toda parte. Estive lendo que nós comemos insetos em todas as hortaliças e frutas verduras legumes que comemos, estão cheios de ovos de insetos. Mas quando falam de comer formigas na farofa, ou grilos assados com queijo, todos torcem o nariz. Os insetos estão por toda parte mas insistimos em não ver: o presente é dos insetos.
Nossas maquininhas: o que são motores senão insetos insuportáveis? Um inseto sem coração, apenas ossos externos e uma fome inclemente, com olhos desumanos: o inseto tem tanta alma quanto meu computador volúvel, com sua carcaça rígida, com suas leis sem coração. O zumbido do mosquito, o zumbido da moto passando a 80: insetos têm exoesqueleto como os andróides que vamos fazer para enfrentar as baratas gigantes, e que vão cruzar com as baratas decretando o bem-vindo fim da humanidade.
A humanidade, aliás, um tipo de inseto esquisto: formando seus formigueiros, cupinzais, andando em fila nas suas ruelinhas e canais construídos, grandes colmeias e massas humanas em ritmos regrados. Os humanos são insetos de outro tipo, e usam insetos máquinas, e comem insetos minúsculos. Pra falar a verdade esquisito é cachorro e gado, que não é inseto (ou talvez seja).
Insetos são e não são, e vem e pousa uma mosca irritante sobre seu braço. Absolutamente, essa mosca existe, para você e para os outros - mas e se não? E se, a cada 15 moscas multilaterais, pousa no seu braço uma que não é vista por mais ninguém. Diria que está dentro da sua cabeça mas ela está sobre seu braço e, digamos, ela existe para ela mesma antes de existir na sua cabeça, aliás: tome cuidado com ela. Alguns seres que tomamos como banais podem ser portas para o inominável.
Insetos, pois sim: comida, futuro, androides, cidade, divindade. O que mais?
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andré aranha 

eu estava errado. perguntei a uma bióloga, que disse
"barata é outra ordem: blattodea. besouro é coleoptera. os dois sao insetos, mas não sao a mesma coisa 
blattodea inclui cupim também! baratas são irmãs de cupim e primas de louva-deus!!!! olha só


sábado, 3 de abril de 2021

O ratinho revoltou-se com sua prisão. "Jamais", avançou ele, de espadinha em riste.

Era a revolução em Ratuália, a capital dos ratos. Ratazanas esperneavam, os navios afundavam; ratoeiras armadas nas praças públicas.
O ratinho Rupert revoltou-se: "Sou inocente! desejava apenas a queijaria liberada! Nós, do partido Laticínio"
Mas não o deixavam continuar "Desordeiro!" "Boa-vida!"
Eis que, aproveitando o estado de sítio, irrompe por entre as ninhadas de rato: a gata esbelta da sra. Y..! Faminta!
Rupert é um herói, valoroso "Para trás, besta ignominiosa! Víbora rasteira, eis-me Rupert, para lhe extinguir"
Após a derrota da gata, aparece sua amada Gertrude, trazendo informações sobre o front:
- O partido laticínio invadiu a geladeira. Reforços na despensa da família Z...! A ratoeira clicou novamente!
A juventude rateira se empolgava, achando românticio o morticínio ratal.
- Rupert!!! não se entregue sem luta...! A revolução láctea precisa de você
- Está escrito nos céus, uma longa faixa esbranquiçada, anunciando a era do leite.
Mas os guardas não se importavam: com correntes de aço, Rupert foi arrastado para as masmorras.
- É um embuste! Me acusam de ter dormido com a presidente da associação!!!
Gertrude guinchou, horrivelmente
- Quiiiiiiii quiiii quiiiii sss.... sssquiiii
Nada de bom parecia esperar nosso herói, mas será mesmo? Não perca no próximo "Rupert e a ratoeira de queijo "