O texto pode virar uma catedral: podemos atravessar aquela voz, aquela linha de raciocínio, com a plana visão do alto, área de polígono aéreo (vitória do leitor, que atravessa o passado)
Mas quem escreve sempre mergulha num ralo fundo, batendo com prego e dando tiro em buraco, às vezes errando o caminho (becos sem saída, esbarrões brutos)
Mas quem escreve sempre mergulha num ralo fundo, batendo com prego e dando tiro em buraco, às vezes errando o caminho (becos sem saída, esbarrões brutos)
Afinal escrever é abrir as palavras para torcerem tudo que digo: entrar remando com a canoa nas águas da fala, e daí a navegar nestas miragens, esbarrar em estátuas colossais meio mergulhadas na água, de um continente afundado
Atlântida, as ruínas das palavras, emergindo do nada com seus contornos, volumes, e que então nós vestimos: feitas de penas raras e braceletes, ossos em colares, chapéus, calças e sapatos: o puro signo artesanal, que guarda os formatos de sua simples herança
Língua, "a menos natural possível", "a completamente arbitrária": e daí a amar suas especificidades, língua minha querida
Língua com que almejo fundir almas em um laço
Língua-Laço: filha da Luz, anterior à Lei
a Linha com que costuro
a letra L: esta miragem que encontro, este colosso saindo das águas, a ascensão da letra L erguida aos céus e à altura
L a Atlântida em que esbarro, ao mergulhar nas palavras arbitrárias, e ver ruínas de uma sabedoria maior, por debaixo dos signos
sabedoria dos deuses antigos (não existe o passado, anulemos a história)
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