sábado, 22 de outubro de 2022

por que me demito

porque vi gil ao vivo e é lindo ir num recital e ser movido (e ver a turba em uníssono, viva dioníso)
porque viva vaia, viva vaia, às vezes o que se requer é realmente uma expulsão, uma autonomia
um desvencilhar-se
como uma serpente saindo da pele antiga
porque o documentário do itamar
e a gazeta, impressa
a usina
e o sul, viajar lá, a porto alegre, e ao Oeste rural
e a minha saúde, minha casa, meu aprender a cozinhar a boa comida e dar a boa festa, que a festa é uma coisa muito boa, para todos, imensa cura coletiva dar uma boa festa
includente
ser do lar uma festa includente, uma alegria
porque preciso passear em outras partes da cidade. não dá mais. já não vou há tempo demais.
porque rever maricá cdd, e rever o trem vt.
porque alerj, porque ir a bsb pesquisar na biblioteca bcb
e denunciar niemeyer
e panfletar pela reforma eleitoral do calendario e do legislativo como o pior dos poderes.
não é todo P uma arquia
o P abunda, toda a criação se faz com M e P
o movimento e a pausa, o contínuo e o descontínuo: uma metafísica que nós, muito perdidos em termos de nossa autocompreensão criativa e dos processos corpóreos da reprodução coletiva, nos atrapalhamos inteiramente na sua relação com o gênero e na relação com a política, e daí a horrorizar-se com a própria ideia de liderança e de representação, destruir imagens, vaiar até abolir, sem fundar (sem propor, construir)
eu sou estruturalista: acredito na existência da criação, de que devemos tentar controlar a magia, aprender ela, pensá-la (e não somente ignorá-la e agradecê-la, como fazem os sem produção. aquele texto de lavoie como central: nossa diferença contra eles - e é uma diferença calcada na diferença primordial DO POSICIONAMENTO QUE UMA ALMA PODE TER em termos de primavera e inverno. o dualismo maior
CONSTRUIR A PRIMAVERA, ATIVAMENTE. ela não vem sozinha, a cigarra trabalha demais.

qual meu lugar?

procurar intervir, ser invasivo, taxativo, assertivo, espaçoso até
ouvir, muito, muito atento, em golfadas intensas e diretas
as coisas estão muito aceleradas
sempre em busca da voz dela não almejo impor, realmente, o meu lar: não é a minha vida. é a dela, que ela faz como quiser
e realmentes só procurar ajudar ela, ali de dentro da biografia dela, ela mesma, a voz dela, o espaço dela.
se ela me pede uma decisão, eu sou um ouvido muito atento, procuro desvencilhá-la de ver tudo como uma catástrofe
fico feliz quando ela "tira palavras da minha boca" e ao contar todo um infortúnio e uma tristeza já conclua com a afirmação positiva: mas então perder meu alcoolismo, tem de se em nome de um novo prazer (e o esporte aparece, aquela casa, a praia... o sol...
e como se tudo isso refletisse teorias da autogestão
agora tornadas algo muito mais autônomo em relação a qualquer disto...
talvez a teoria do irmão
filhos únicos não compreendem diretamente (umbilicalmente) mas apenas através de primos
esse artesanato que é fazer corpos em série
quando a série é maior... irmandade que atravessa as idades, mediando massas de gerações: lares
manter de pé um lar
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e mais do que brigar (no que sou mais defensivo) pratico uma desobediência
o texto da anarquia como realmente o texto principal... em que me miro, porque revela as etimologias (aquele texto foi escrito como um mapa da etimologia... e pelo seu próprio embalo se casou com o anonimato e o analfabeto de uma maneira... viva a morte do autor, evoé nós, leitores de nossas próprias autografias bios vidas
conseguir VER e designar a posição arquetípica, arcaica, arcana
que as próprias PESSOAS, enquanto vanguardas, lideranças, personalidades específicas, relações com o próprio ser que está lendo isto, que tem nome e participa de uma hierarquia específica de familiares chefes e a turba
mover-me na relação com o outro, como uma relação em que consigo PARTILHAR A AUTONOMIA DA ABUNDÂNCIA
conseguir, efetivamente, doar-se (e não envolver-se em dívidas) voltar à dádiva
VOLTAR À DÁDIVA
este o meu lugar... primavera, venha, venha
inverno, vá
de volta a conclamar a PRIMAVERA perdida nestas décadas de inverno; voltar ao imperativo telúrico da cigarra contra a formiga, da invocação da fertilidade em seu brotar (como leite e mel)
localizar o éden terreno: o princípio da geração, a criação, ocorre em tudo: tudo está se criando novamente a cada momento (e nem existem momentos, existe o tudo em expansão, a abundância jorrando em tudo que existe, pois só existe a matéria vibrando uma abundância de existir
e sim, há coisas maiores do que as pessoas.
(de volta à física de husserl, como conseguir pensar muitas pessoas, sem imaginar-se o arquiteto: como entender minha pequenez, sem imaginar-me grande, vendo essa pequenez de fora - como entender minha grandeza sem imaginar-me pequeno, vendo-me enorme assomar
como entender o meu tamanho?
a justa medida, a roupa em que caibo
as leis como calças bem ajustadas, a roupa perfeita para o meu corpo
o texto da anarquia como principal? como arquetípico, arcaico, arcano: praça, encruzilhada da metafísica, onde encontro antigas estátuas semi-enterradas. o ponto de início, e a vanguarda que toma uma decisão: ordenar; ser um bom ordenador
e viver os prazeres...? não era a ideia de epicuro, regrá-los? de fourier, uma economia (anarquista, utópica) dos prazeres?

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Inexiste o passado

Voltar a Husserl: a terra não se move; de fato, a terra não tem passado, pois é ela o eixo de onde nasço e morro: próprio solo do firmamento onde toda a existência se dá, ponto de referência primeiro, eixo zero, início, alicerce de toda a física
Invadir os cientistas com a definição matrialista da física, a definição fenomenológica baseada no fato de existirmos enquanto corpo, enquanto este corpo
Refundar a física baseada na escala humana, tátil quase, a física experiencial antes que experimental, a física intuitiva que sentimos ao defrontarmo-nos com as dimensões da grandeza, do abismo, da vertigem, da amplidão do horizonte e do muro, do movimento e do jogo dos ventos das águas das terras pedras minérios metais
Fundar a física, e dizer: além disso, é meta-física, sempre! Não me venham com experimentos, é tudo meta-física, a metafísica está presente em toda a ciência, abstratíssima, e distanciada há muito da escala humana, em seu mergulho metafísico com início há alguns poucos séculos
Voltar à física como à revolução ecológica do parlamento das coisas
Viva Bruno Latour e seu Jamais fomos modernos

A LÍNGUA ATLÂNTICA

O texto pode virar uma catedral: podemos atravessar aquela voz, aquela linha de raciocínio, com a plana visão do alto, área de polígono aéreo (vitória do leitor, que atravessa o passado)
Mas quem escreve sempre mergulha num ralo fundo, batendo com prego e dando tiro em buraco, às vezes errando o caminho (becos sem saída, esbarrões brutos)
Afinal escrever é abrir as palavras para torcerem tudo que digo: entrar remando com a canoa nas águas da fala, e daí a navegar nestas miragens, esbarrar em estátuas colossais meio mergulhadas na água, de um continente afundado
Atlântida, as ruínas das palavras, emergindo do nada com seus contornos, volumes, e que então nós vestimos: feitas de penas raras e braceletes, ossos em colares, chapéus, calças e sapatos: o puro signo artesanal, que guarda os formatos de sua simples herança
Língua, "a menos natural possível", "a completamente arbitrária": e daí a amar suas especificidades, língua minha querida
Língua com que almejo fundir almas em um laço
Língua-Laço: filha da Luz, anterior à Lei
a Linha com que costuro
a letra L: esta miragem que encontro, este colosso saindo das águas, a ascensão da letra L erguida aos céus e à altura
L a Atlântida em que esbarro, ao mergulhar nas palavras arbitrárias, e ver ruínas de uma sabedoria maior, por debaixo dos signos
sabedoria dos deuses antigos (não existe o passado, anulemos a história)

sábado, 1 de outubro de 2022

Xenofonte

porque o trabalho do economista ainda é o de xenofonte
- fundador da palavra economico em seu diálogo Eiconomicós -
lavrar e defender uma terra, sob um sol: colher frutos de um terreno de natureza
defender Eco o lar, a casa, e a família e os agregados em reprodução
e alimentação, a arte de organizar uma cozinha (e uma despensa) sempre cheias
de alegria de funcionamento pacífico, fluindo para a abundância de todos
outro livro do xenofonte é a Anábase: Ascensão, subida
da raiz Aná-logo Aná-lise Aná-tomia Aná: subida
distinta de An-árquico
e o livro conta a história de sua "gestão" num exército que, após uma invasão à pérsia, depois de muito tempo tem que fugir, e ele ajuda a organizar as tropas a ir saindo dessa enrascada e voltar à sua terra natal
Aná-base, a história de uma arquia ou an-arquia (que vontade de escrever: aná-rquia, an-ábase)