Esvaziar a mente pelos dedos
Página vazia: e te invado
Ou nem sou eu, meus dedos
Se esvai
Limpar o fundo dos meus olhos
- como um pano úmido
a retirar pó -
O pó que se amontoa,
E minha mente uma biblioteca empoeirada
Um cemitério, uma ravina seca empedrada
Tirar-me o pó como um lavrador retira pedras
e limpa a terra
Despejar-me na escrita
Como um despejo que me limpa
Dessa poeira, sufocante
Não quero desenhos desse pó, no papel
Não dar-lhe nomes, entroná-lo
Multiplicá-lo, rebatê-lo em espelhos
Trazê-lo para dentro da família, case com minha prima, coma do meu jantar
Te ignoro
Hoje, te varro como quem joga fora os embrulhos do correio
Uma semana toda curvado sob teu pêso cinza
Mastigando tuas correntes cinzas
Farejando teu rastro estéril para te cortar, teia de vidro que sufoca tudo
Mas hoje livre
Te espano com um espanador de penas compridas
Sou de volta um homem
E durmo, em primeiro plano,
E preparo uma boa salada no almoço
E visito minha avó para colher-lhe o cafuné
E não faço nada
Sou só e vivo, vivo,
vivo simplesmente e sim.
Da poeira, eu a espirro para bem longe
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