Nadar no mar é muito diferente de nadar numa piscina de clube. Mais leve de boiar, só que eu não sinto isso, e se me perguntarem medidas físicas vou responder: mais pesada a água isso sim, mais pesadas as braçadas.
Mas isso é muito técnico, digamos que a água da piscina fosse pesada. E que às vezes tivesse algas, e quando chove, folhas da rua pra não dizer saco plástico e lixo, espuma escura e aí nem entro. E às vezes fria que dói e basta um mergulho para sair revigorado pulsando e amar a areia, digo, a borda.
Não, a diferença é, literalmente, muito mais profunda. Que aparece na superfície como aquelas ondas malignas que podem te matar, e toda a disputa infernal para atravessar a arrebentação, um cachote que te pega de rasteira, a massa espuma que te cobre a cabeça (e depois horas depois saindo água pelo nariz quando vira de ponta-cabeça). O mar é uma força viva descomunal, e entrar e sair dele é toda uma arte de perigo e contato com o indizível. Eu mesmo passei a caminhar mais pra nadar numa parte mais calma, depois de um ou outro sufoco.
Mesmo assim, já dentro, atravessadas as ondas, já tendo aceito que a saída vai ser uma luta, aí sim é que desponta a diferença do mar. Pois é que, por definição, o fundo está cheio de simplesmente tudo. O escuro do fundo, que não vemos, se estende, indefinidamente, até o horizonte se perder em mil céus de tempestades e outras terras, e no caminho, baleias e arraias, tubarões e águas-vivas, e também, transatlânticos e submarinos, e também
E também fossas abissais, polvos e lulas gigantes, e mais no fundo, o escuro sem nome, e mais além, e mais e mais...
A milhares de metros de profundidade, como uma espaçonave e suas sondas, sabemos tão pouco e que seres são aqueles? Milenares, cegos, comunicando-se por ondas, sob uma pressão estúpida. Que imenso minuto não vigora em suas consciências ultrassubmarinas, sem o céu ou a sombra dele, absolutamente independentes dos astros, e em contato com as aberturas infinitas do próprio chão, com seus vapôres e o que está ainda além, adentro. Não serão eles sábios como os alienígenas intergalácticos que às vezes imaginamos?
Pois se estamos descrentes do que está atrás do céu, e descartamos os "jalequinhos" com suas lunetas... Se queremos voltar à superfície do céu, como sua existência verdadeira, sem projetar nele outros mundos, e assumindo os astros pelo seu pêso real em mim, desenhos imortais na noite dos meus olhos; então o chão que meus pés pisam, sua infinidade de profundezas inacessadas, cavernas e mistérios, minérios perdidos, escavações, não é ele a última fronteira para o desconhecido? O que está embaixo? Não seria o solo o novo espaço sideral: o do profundo, do ilimitado solo em seus níveis e vermes? De volta ao terremoto e ao vulcão, de volta a gêiseres e menires incrustados, de volta às fossas do mar-oceano.
O mar, o mar e o mar, e o sal
Fabio Secco: Eu amo muito nadar no mar, mas o medo e pavor de não saber o que tem logo a baixo, do bicho q pode aparecer de repente, me consome bastante, mais do que as ondas. Ainda assim tento nadar, admiro muito as pessoas que fazem aulas de natação no mar, sempre me pergunto se elas nao estão preocupadas com os bichos abissais hahahha
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