Anarquia: que palavra!
O “A” na frente, como em “Analfabeto” ou “Anônimo”, promete uma abolição do que lhe segue.
Mas se tanto a "não-alfabetização" do Analfabeto, como a dissipação da autoria, no Anonimato, nos parecem autoevidentes, e compreendemos a ausência que o “A” aí promete; é com dificuldade que identificamos com precisão o estado Anárquico da existência.
Logo saímos da rua, onde víamos o “A” pixado pelos muros, e as milícias de preto em combate com policiais; para abrirmos arquivos poeirentos, e perguntar a etimólogos e arqueólogos de quê língua mais arcaica nos vem essa palavra tão empolada e esquisita.
E não seria com grande ironia, que encontraríamos a resposta: é a raiz mesma de ARCAIco que é negada na anARQUIa. E o ARQUIvo, o ARQUEólogo! É anarquia a insurgência contra os arcanos do passado.
Confusa resposta, que a palavra nos devolve. Ela prossegue: e não seria o encontro do Alfabetizador com o anAlfabeto, como o encontro do Arquiteto, com a anArquia?
O arquitecto planeja e rege; ele principia o cortejo do trabalho. Arqui-técnico principal, príncipe de pedreiros e carpinteiros: sobre todos os técnicos ele impera. O arquiteto, como o arquiduque, o arcebispo ou o arcanjo, é o Primeiro, o que vai à frente, a vanguarda que funda o arcabouço arcaico que nos rege.
Frente a ele, a anarquia aparece como o estado anônimo, sem identificação de hierarquia; como o estado analfabeto, sem submissão ao arcano conhecimento dum autor externo; a anarquia não tem monarca a reger, não obedece a arquétipos do que deva ser.
A palavra anarquia nega mesmo toda vanguarda, que lhe ditaria regras, princípios qual príncipes a lhe reger seu curso de ação; mesmo a própria palavra “anarquia”, arcaica que é, não lhe pode preceder: vitória do analfabeto.
Que fique então claro, essa palavra trata do que está entre uma vanguarda e outra, como o anonimato preenche o espaço onde a autoria não se dá. A anarquia questionará então toda vanguarda, todo planejamento externo, anterior; toda alfabetização como submissão ao conhecimento, e não como recriação do alfabeto; toda autoria centralizada.
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Albatroz André ArAnhA
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