domingo, 17 de abril de 2016

Manoel de Barros tem um poema gostoso que começa com "Entrar na Academia já entrei (...)". Uma vez, lendo-o a uma amiga, entendeu ela que se tratava de uma academia de ginástica -- o que não deixa de ser hilário, imaginar o Manoel de Barros correndo na esteira da BodyTech. Desde então fiquei pensando em como é engraçado isso de que uma só palavra possa ter dois sentidos tão díspares, ainda que tão próximos. Digo: a Academia referida por Manô, com "A" maiúsculo, é a universidade, casa do saber instituído. A outra acepção é de um centro de atividades físicas. Mente e corpo numa disputa excludente pela mesma palavra. Feito Nossa Senhora Aparecida, cuja cabeça volta e meia desgruda do corpo e cai.

Alba Sant Perligeiro

Entrar na Academia já entrei mas ninguém me explica por que essa torneira aberta neste silêncio de noite parece poesia jorrando… Sou bugre mesmo me explica mesmo me ensina modos de gente me ensina a acompanhar um enterro de cabeça baixa me explica por que um olhar de piedade cravado na condição humana não brilha mais que anúncio luminoso? Qual, sou bugre mesmo só sei pensar na hora ruim na hora do azar que espanta até a ave da saudade Sou bugre mesmo me explica mesmo se eu não sei parar o sangue, que que adianta não ser imbecil ou borboleta? Me explica por que penso naqueles moleques como nos peixes que deixava escapar do anzol com queixo arrebentado? Qual, antes melhor fechar esta torneira, bugre velho… M. de Barros André Aranha - enxameadas de sofistas, ambas; e o platão, que fundou essa palavra, Acadimia; ele já dizia (num diálogo lindo sobre a retórica, o Górgias): verdadeiro filósofo seria o mestre da ginástica, que não nos traz prazeres, comidas condimentadas, falsas sensações de alívio que se desmancham no dia seguinte; ele nos dá a verdade do corpo, sua postura, e os penosos alongamentos e exercícios de que fugimos, mas que nos trazem o bem vindouro. Também a academia das bibliotecas afunda hoje em ecos, reflexos e fantasmas de uma filosofia tão distante dos cuidados do corpo;;
a acadimia devia ser uma só, estudarmos a palavra bem-sentados, harmonia de tons vocais silabando o conhecimento dos gestos belos sim, às favas com essas academias de sombras; vamos canibalizar suas ruínas na aurora das novas ágoras; a academia sou eu ...disse a excelentíssima amiga Madalena, e eu aqui anotei. andré

terça-feira, 12 de abril de 2016

«««««« ‘descubra semanalmente’. a importância de frequências que são de outro lugar, sonoras, conectivas, outra dimensão. verbos na gravidade, falas de outra ordem, corpo solto. aquele clichê insubstituível: if i can’t dance, it’s not my revolution. penso que em tempos difíceis, dançar, sair, tocar, produzir, dançar, pintar, cantar, fazer ritual, são mais do que ações, são necessidades. atos e mais atos. tem(os) que sair por algum lugar. queria falar de corpo, só dança e tecno-terreiros-eletrônicos, amigos que produzem festas e querem tatuar que amam elas no braço. amo eles, culpa disso tenho dançado, e também pq há um tempo andava sem graça, a tal da noite. (pra quem quer) ela é um lugar de afetividades e corpos vibráteis em meio a fortalezas duras e irreversíveis. hahaha. poucos dançam. mesmo, logo se vê! viagem, ia dizer que não queria falar de política, mudar de assunto. mas aquela coisa... corpo, ser político. a porta de saída da festinha é ali na esquerda.
Cosentino Colibri Clara
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Comentários
André Aranha
André Aranha achei esse final muito esquisito? e eu tava gostando muito, mas não entendi o que quis dizer? uma ambiguidade incômoda, eita, de repente um banho de água fria de política mesmo.
André Aranha
André Aranha daí ir lendo de baixo pra cima, voltando as frases. ia dizer que não queria falar de política - mas falou? 
poucos dançam
e só agora que vi, linhas acima: em meio a fortalezas duras e irreversíveis. irreversíveis?
André Aranha
André Aranha realmente, que doido, eu sinto que no final do texto você veio, e parou a música, e falou: que porra é essa que está acontecendo? vc está só lendo como curtição, sem prestar atenção nas sutilezas?
Santiago Perlingeiro
Santiago Perlingeiro vc não entendeu nada, Andrei, o final é o melhor, justamente pq não tem nada a ver com política, só referência (geográfica?)

segunda-feira, 11 de abril de 2016

entao pra virar jornalista do ibge vc tem 2 vagas e é uma prova de multipla escolha imensa em 4 hs. agora eu pergunto. q porra é essa, q delirio de basear um sistema em treinar pessoas a ficar sabendo escolher o pote onde parou a bolinha, e td cronometrado. vcs estão lunáticos? ah desculpe;;;

nós vivemos a midia esterilizada e por isso verborragica, imensa maquina de produzir fantoches vazios todos os dias, ate capturarem toda a atencao em seu espetaculo, suas provas, os herois que escolhe; mas há a brecha, por vezes ocupada, da proliferacao de imprensas, das aceleracoes dos espasmos de auto-consciencia da massa, novas cadeias nervosas conectando ações dispersas em um novo musculo social

no metrô hoje:
bonito né, petista falando no iphone, cadê o orelhão agora?
mt bonito tb, capitalista no metrô, cadê a bmw?

achei essa boa. n vivemos as ideias caralho, vivemos as classes.
outra boa: já q tudo é made in china, e o proletariado foi pra lá (as fabricas... mas tem tanto chinês por aqui), o brazil quer reprimir e virar só fazenda;; e nós da cidade reclamamos. é a história mais velha q tem. partido conservador (monarquico, rentista) x partido dos profissionais liberais, coligacao urbana... q sempre racha e uma ala vira o novo conservador.

acabei de voltar do aniversário da sogra (q ficava sendo anfitriã e ng dava bola, aniversário do cunhado tb e ele calado no canto, a casa tomada pelo pai, seus irmãos, amigos e sobrinhos adultos; eu me dando conta de minha mae passar o mesmo; e diabos, eu vou seguir esse mesmo caminho? nunca escapar do patriarcado basico do lar? fechei os olhos um momento, abismado... espero q nao
mas enfim, q saco esses papos sobre a câmara, se o rei vai ou não passar a lei, se vão prender ou julgar o rei. n sabemos nada porra. fodasse o rei. n sei nada. me sinto orgulhosamente uma dona de casa q lavou louça o dia inteiro, nao sei lhufas dos ministerios só sei que estou aprendendo a costurar, a cozinhar legume, a lixar móvel. e agora me vem o doutor todo versado em complicacções de língua, q lhe disfarçam a total irrelevância, explicar meticulosamente sua opinião bombástica: de q td vai dar errado (ou ele acerta, ou algo salvou a situação, mas ele é sempre muito ponderado...) q saco
como se quem nao le esse jornalismo de bosta nao tivesse nada pra falar. sobre a vida, sobre o mundo, o tempo q vivemos, o q vai acontecer, nada?

este livro magnifico, o Leopardo, na sicília, 1860: "Seis meses atrás (quando era monarquia, absolutismo real, o poder alienado da massa) ouvia-se a voz dura e despótica que dizia: 'Tem cuidado, faz como te digo'.
Agora (na democracia falseada dos liberal-nacionalistas e seus jornais monotônicos, tudo mudado para tudo permanecer igual) sentia-se que a ameaça havia sido substituída pelas palavras doces do usurário: 'Mas não viste que foste tu mesmo a assinar! Isso é evidente. Deves fazer como te dizemos; repara nesta letra: a tua vontade é igual à minha'."

tese simples, de que não há passagem do feudalismo para a burguesia, isto é, da monarquia à democracia; o povo é soberano aonde? se está todo mundo fodido? há é ilusionismo, roupagem, usura; jogo de disfarces onde as coisas tomam nomes trocados e a palavra nunca é o que diz; diá-bolo: o sím-bolo (uno) atravessado por um reflexo eco sombra, jogo de fantasmas.
a carta do coringa, que se disfarça das outras, falseando os jogos;  nossa conversa opaca, cega, vivemos o baralho;
e caça-níqueis, calculadoras de cassino, máquinas da loteria é o que construímos em nossa lógica disparatada, desenfreada com tiros e aço pavimentando seu caminho

ando meio puto de ter passado 27 anos achando q jesus existiu, e agora descobrir q é um dogma, como qqer outro dogma q enfiam na nossa cabeça, um mito de homem divinizado e puro do contato com a mulher, apanhando do estado, mais um revolucionario hippie q se fudeu. mito de merda, capturam as mulheres sempre como eva (q sai da barriga dele) maria (de q negam sexo , placenta, mamas; queriam negar ate o parto pq fazem presépios com ela achando a criança no meio do celeiro) ou a mais resistente imagem da madalena (uma louca nua e cabeluda q eles chamam de puta e enfiam hostia na boca) sao todas a mesma personagem: a mulher porra, a mulher q por mim ergueria um estandarte da menstruacao afirmada (mas quem sou eu, olho minhas bolas e filhos da puta destes ilusionistas, q fundam um patriarcado onde o pau está pactuado com o fascismo e meu corpo está negado em ying yang, nao sou então terra? sou ser falso, só metade carne, veiculo de fantasma, eterna forma sobre materia? mas tenho mãos, e proclamo ao céu, ejetando linhas de luz pelos três dedos erguidos em riste, mãos, mães da matéria: origem originadora da origem originária
ORIgem ORIzonte

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albatroz peter coast

sexta-feira, 8 de abril de 2016

maconha
quero ter maconha
e decidir se fumo ou não
estou cansado dessa coisa de só fumar a dos outros. quando me dá a sêde, de acender o brilho, os olhos ficarem estrelas
eu decido e cindo em duas metades, há o dois dentro de mim
quero ter o bec e fumar quando decido, cindido em dois, e montar o muro e abri-lo. saber ser porta, que fecha e abre. olho que dorme, que olha pra dentro. não só impulso, desejo irrefreado fumando ao sabor da sua aparição, sem ir atrás, sem recusar tampouco... levado pela maré, a vela solta
quero tornar-me um grande ser de eclusas do desejo, que se abrem, que se derramam, que se coincidem para formar grandes torrentes da luz subindo
da terra para o ar

e os dedos que se espalham como pára-raios?
Mandalaú: e sobe do sacro ao furo do crânio (ali, no final da testa, há um buraco, por onde ascende o vento de calor, nosso eixo de alma - pois que a alma é coisa física, só não cabe em fita métrica - como os lapsos de choque que os nervos dão, e somos uma flutuação voltaica da corrente cerebelante, nossa usina de faísca - e os olhos bebem luz, e nós deixamos os ossos imantados, sou um diapasão magnético vibrando)

musia a nota voz de suuuuuuuuuu
saaaaaaaaaa
sauaréeeeeeeeeee
aiadanooooooooo

e os alienados veem alienígenas por toda parte. eu vejo a água, cheia de deuses. divindade ininterrupta

história dos ocos, que guardam, que derramam.

troz ba al ANDar ANDré