Vem cá, vou lhe contar uma história: Era uma vez, um príncipe em um reino muuuuito distante... Ah, mas essa estrutura... Daí depois, a gente vai falar de política, e é tudo ao contrário...
Então melhor: era uma vez, uma princesa! de um reino muitíssimo longe. Ela usava vestido curto, que pudesse mover as pernas, e seguia com seu séquito encontrar o resto da corte etc. Mas que saco essa vida aristocrata. Vamos problematizar?
Era uma vez, uma criada num reino muito distante.... (talvez agora melhor um criado? repisando estereótipo) que vivia trabalhando (meio Cinderela isso) até que um dia o príncipe encan... oops
Era uma vez uma trabalhadora autônoma num reino distante, uma lenhadora (uau! que inusitado) que vivia muito sozinha, trampando pa burro. Acontece que naquele reino havia uma lei de que não se podia usar calça curta (ou "shorts") e nossa lenhadora era inconformada com isso (tudo bem? o foco ser algo supérfluo?) Um dia apareceu um alfaiate famoso, da renomada fábrica de jeans, e instaurou uma moda pior ainda: mais que boca-de-sino, as calças eram pra ser longuíssimas, ficando todas dobrada amassada no pé. Lenhadorinha (ou ona?) ficou fula da vida, e pra encurtar a história (que convenhamos, tá mei ruim) liderou uma revolta popular socialista e instaurou o comunismo.
Pronto! chegamos na ideologia pura! tudo certo?
Acho que não, sabia? Acho que é mais fundo ainda.
Era uma vez uma população oprimida pela lei de não usar calças curtas. Pessoal às vezes tava calor, às vezes tinha que jogar bola ou fazer coisas que exigiam alongamento, e a calça travava. Quando as criança crescia era horror que deixar pescando-siri dá cadeia, coisa feia. Espontaneamente surgiu uma revolta das braba, e s'instalou o regime comunista lindo.
Não, ainda não. Fica simples demais.
Era uma vez uma lei contra o short. Muitos do povo se revoltavam, mas vinha servindo de desculpa para uma complexa ascensão dos alfaiates. O regime do jeans instaurava-se ideologicamente. Lenhadorona, vendo seu príncipe encantado levado pelos tiras, encarnou a revolta. A faísca acendeu o paiol, deu voz e rosto: mas lenhadorona foi executada em praça pública. Sentença: enforcamento por calças longuíssimas, e a repressão venceu. Fim.
Bem legal hein? Realista? Causando!!! É mas a criança não vai dormir. Que história de merda.
Então vamos terminar feliz: "... por calças longuíssimas. Acontece que o irmão dela, Lenhadorim, de caso com o alfaiate tal-coisinha, indignou; e na alfaiataria a costureira Xis tinha alergia a jeans, gostou; e nesse mesmo mês chegou na cidade - no reino - uma turba de foliões tocando o terror, desestabilizou; enquanto em paralelo teve duas ou três outras pessoas que também foram mortas e despertaram revolta..........MAS pra fins de mobilização, decidiu-se focar na Lenhadorona como mártir e PUM revolução digo golpe e transformação radical do Estado, num processo complexo e dinâmico...
Ah, devo dizer, de todos problemas e chatices (que depois dá pra ajustar), só comento uma coisa: que triste ter voltado ao messianismo pelo marketing. Que na verdade é a questão dessa história: como contar uma história descentrada? Sem líder sem herói, sem príncipe sem focar num personagem? Decapitar a história!!! Evidenciar que a história se faz pela massa, tanto a História mas de fato toda a vida tudo são massas coletivas ESPERA. Virou palestra, era pra ter piadinha, "porque só com humor se chega à verdade" (Platão). (Mentira).
Agora sim. Era uma vez uma lenhadora, os alfaiates quiseram impôr uma calça longa, ela chamou os amigo e tocaram terror, viva a mobilização, invadiro estado e começaro a mudar lei, foi dando outros caô principalmente com a invasão dos folião, PUM pousou uma nave alienígena, PLEI o pé de Zeus interveio na história, ah quer saber FLOUDase tá descambriolando tudo mesmo. Mas valeu a viagem, a criança já deve ter dormido. Mais uns ensaio e começa literatura arretada.
Só achei engraçado escrevê "shorts", aliás