Cansado de ler, vem-me a vontade de deitar linhas aos borbotões e tomar o papel, sem nele deixar espaço em branco: como fôsse isto um passatempo qual ler, alongar, jogar ou dar passeios: qual não deixasse então estas estranhas marcas que depois lerei, julgando se estão bem escritas: se têm um embalo, um de sintaxe mas também um de ideias, se vêm roçar por paisagens bonitas com suas asas em seu voo disperso, se estão bem desenhadas, bem legíveis, bem intencionadas em suas curvas, se enfim a brincadeira da tinta e má postura em imitação aos signos que se impregnam e viciam como que os dedos ou o próprio olhar, em desvio e salto pelos obstáculos e dispersões em que desejo mergulhar, em que luto por manter o fio de sintaxe em enfim dar-lhe uma conclusão, como um ponto final que, pesado, segura o balão após tremenda travessia, e lhe permite recarregar; se é este um bom jogo de tatuagens na página e na memória, se as esculturas de verbo serão saborosas de depois degustar: que é a escrita senão uma encruzilhada ou um eixo dos muitos tempos que nela se dão? que são as perguntas feitas para si mesmo, um teatro de mímicas em que se aprecia no mais a sonoridade, o eco que subjaz; que é reler-se? e então olá a mim que me releio.
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