sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

HERMETISMO E INICIAÇÃO
Comprei esse livro do Fernando Pessoa - peraí, o Pessoa era um MALUCO OCULTISTA? Na real, faz muito sentido, o frito que rachou em quatro cabeças, ser maçom, iniciado nos mistérios de uma ordem, nos símbolos ocultos que permitem adentrar os espaços e decifrar os níveis mais profundos da...
Ai ai ai!!!! Que foi isso que comprei?
Esse livro é de maluco!!!
é roxo, meio tosco, com essas letras garrafais
Fernando Pessoa
HERMETISMO 
e INICIAÇÃO
Estou falando um pouco sério quando escrevo essas linhas. Achei que seria mais tranquilo estar dialogando, me mantendo EM COMUNICAÇÃO antes de abrir de novo esse manancial de delírio. Porque você lê e não consegue não acreditar, e vai se adentrando um labirinto!
Vou então falar dele, me mantendo à tona: e essa nossa conversa aqui, vai ser meu cordão de Ariadne (teia da fala, acordo do discurso)
"Reputo indubitáveis ertas afinidades entre..." eu não consigo continuar copiando sem começar a tentar levar a sério, pelo menos aquela linha, e já estou me perguntando "peraí, reputo quer dizer o quê mesmo?" e já parei de copiar e as folhas vão passando...
"Do estudo da metafísica, [...] passei a ocupações de espírito mais violentas para o equilíbrio dos meus nervos. Gastei apavoradas noites debruçado sobre volumes de místicos e de cabalistas, que nunca tinha paciência para ler de todo de outra maneira que enão intermitentemente trémulo [...]. Os ritos e as razões [?] dos Rosa-Cruz, a simbólica [...] da Cabala e dos Templários [...] - sofri durante tempos a aproximação de tudo isso. E encheram a febre dos meus dias especulações venenosas, da razão demoníaca da metafísica - a magia [...] a alquimia - extraindo um falso estímulo vital da sensação dolorosa e presciente [?] de estar como que sempre à beira de saber um mistério supremo."
OBS. Os "[...]" são do texto original
Anotação que fiz, numa dessas leituras, numa margem:
"ah! me elembra minhas pesquisas etimológicas na biblioteca que me deixavam com medo de ficar maluco!"
ou
"tenho muito isso chapado"
Opa. Estava folheando aqui (as linhas deste texto estão em ordem cronológica de escrita. não vou rever) e esbarrei no nome do Crowley. Não sei nada do sujeito. Só que foi um mago britânico, em algum século meio recente. Que porra isso quer dizer, eu não sei. Em "bruxa", tacaram fogo. Mas mago...?
O livro fala mt de maçons umas horas... de como o Pessoa publicou em jornais defendendo os maçons, falando dos mistérios da ordem, bastante difundida em Portugal... Me liguei que Portugal (Porto-Gália, nessa raiz gallo-romana de Galícia e Gália) tava muito ligado às Ordens de cavaleiros etc. desde as Cruzadas (que na Europa Central, no rio Reno, significava xenofobia e matança de judeus-árabes. Se o mundo é uma flor de três pétalas: Europa, África e Ásia; no centro do mundo, o centro da flor é Jerusalém, ponto de encontro das três grandes Existências da Terra - ao que responderíamos com os outros centros: o Egito e a Mesopotâmia... eurocentrismo)
Aliás escola de navegação e um MALUCO pra meter caravela adentro do fim do mapa, em que os editores desenharam uns DRAGÕES, fala sério.
Outra pista (mas, na verdade, de "pistas" está cheio, e é isso que mais dá nos nervos): os maçons, ou melhor, um braço armado da maçonaria, conspirou e matou o rei português em 1906, e o país entrou numa guerra civil fudida, parece que virou uma "república assassina", hiperinflacionária (tem casos famosos de imprimirem dinheiro), a copiar "o pior do estilo jacobino de revolução".
Tinha maçons entre os iluministas. Voltaire...
Eles se organizam em Lojas (lodges) e se reúnem em cafés (que têm brasões lindos, eu vi num museu); eram uns cento e tantas lojas na Europa (seriam só ricos? ou de tudo, como uma igreja, o que quer que isso queira dizer. 
- aliás diz que antes a Igreja era uma coisa só (?) mas desde então ela tá rachando? Várias ordens, desde lutero calvino contra um papa maluco, e franciscano e jesuíta, e evangelico pentecostal, e teologia da libertação, e opus dei....
O Pessoa fala:
(dps eu termino de escrever esse texto)
Albatroz André Aranha

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Clément me leva de miniônibus pra conhecer um bairro planejado. Segunda de manhã, alarme cedo no apartamento de um quarto só. 
Quer tomar limonada?
Aceito! Assim só tomo café no trabalho.
Dei pra ele um bolinho que resgatamos da Recup. O supermercado deita fora, em grandes lixeiras, um monte de produto passado da validade ou que são legumes feios, impossíveis de vender, mas bons pra comer. Algumas pessoas pegam. Em cidade pequena é fácil pegar e eu peguei. Comemos.
Andamos no frio. Ele aperta o código do portão pra entrar numa vila, mas logo saímos pra outra rua. "Olhei alguém pôr o código, é um bom atalho. A zeladora quando me vê reclama..."
Miniônibus nas auto-estradas, ele normalmente pega a bicicleta pública até a base do trem. Mas não é trem, é uma sigla: RER, o super metrô-bonde de uma cidade enormíssima. Sempre cheio de assentos vazios (no contra-fluxo, é claro, quero ver no rush) de um conforto elegante, mas que não me deixa deitar.
Vamos do outro lado da auto-estrada, já fora do anel periférico de rodovias (as muralhas antigas) que separa a capital de seu transbordamento sobre as cidadezinhas. Todas têm prefeitura comunista, forçando aluguéis baratos. "Cinturão vermelho"
- Como assim comunista?
Ah você sabe... Lenin, Marx...
Os que comem criancinhas?
Chegamos no trabalho dele. Edifício modernoso, de dois andares, espaçoso e com acessos por vários lados. E todas as portas estão trancadas, e a cada sala que me mostra, tranca a anterior. Não entendo por quê.
Salão da cafeteria, já com cheiro de café mesmo vazio; cozinha com panelões para comida em massa; salas de atividade, de aulas da língua nacional; de aulas de dança, de pintura e teatro; escritórios dos funcionários, espaçosos, corredores amplos; salas disponíveis para "quem quiser usar", ou para reuniões de grupos, ou para entrevistas individuais, de apoio jurídico aos imigrantes... sala de informática bagunçada, estúdio para música com vários tambores bons...
Café tomado, saímos ao bairro planejado. Grigny, gri-nhí, em meio a gramados verdes, edifícios longos, sinuosos de cinco andares fazendo curvas por uma área enorme, pontilhados inteiros por janelinhas. Vários assim, numa área enorme, delimitada pelas auto-estradas. Entremeados de gramados, de praças Júlio Verne, um grande mosaico com o rosto de Arthur Rimbaud, alguns brinquedos... Mas tudo muito rígido, impessoal...
As crianças estão saindo para a escola, com as mães (segunda-feira de inverno, manhã fria e chuvosa) e são todas negras ou árabes indianas asiáticas, nada da pele e feições do Rimbaud enorme que lhes faz paisagem. Não vejo pixações, nem nas passagens subterrâneas por sob a auto-estrada, nada de grafittis, nada de spray ou jet, ainda que a pouca cultura periférica que ouço daqui, seja muito rep e ip-op. Só algumas palavras riscadas nalgumas portas, do tipo que vejo muito em monumentos e ruínas antigas: arranhões.
Não posso deixar de comparar com a Cidade de Deus, favela do rio que conheci um pouco mais de perto. Ainda que de início um bairro planejado, da mesma época que esse aqui, anos 60-70, nessas décadas desde então não faltaram obras, alterações nos muros originais; casas fundidas, extensões, quartos novos, quartos divididos; novas portas para a rua para abrir pequenas vendinhas, lojinhas, para vender a roupa que costuram, a comida que fazem; para salão de beleza ou oficina, ou revenda ou conserto de qualquer coisa. Aqui não. Não tem comércio visível, só numa certa praça, muito regrada, um açougue, uma pizzaria, um kebab...
- Por quê não vendem coisas? Não fazem roupa, não cozinham? Não dão seu jeitinho?
- Não podem. A fiscalização, é muito forte. Tá vendo esse carro, estacionado? No pneu dele, tem uma marca de giz, passando da roda para o chão. Mostra que ele não andou desde que fizeram a marca. Foi a polícia quem marcou, a polícia municipal, a fiscalização. Se ele ficar parado mais 15 dias, é rebocado. Eles são muito presentes, estão de olho em tudo.
Então não pode criar nada informal. Nada da informalidade carioca. E a periferia é toda assim. Planificaram e formalizaram todos os bairros informais, autoconstruídos. Não, pobre aqui mora em prédio planejado, planejado pra formar bairro dormitório. Então todos ficam muito encerrados dentro de casa, porque aqui não tem nada, tudo acontece fora daqui.
- Não tem favela? Barraco informal?
- Sempre volta a ter, até planificarem de novo. Agora está tendo muito os "rômes"... que pode significar ciganos ou romenos, ou ser só um nome genérico para nômades marginalizados. Tem uma parte grande da população que se chama, simplesmente, "le gens du voyage", gente da viagem; e que moram em enormes acampamentos de caminhonetes, carroças, trailers, e não têm muita identificação, se escapando um pouco de todo esse Estado controlador. Mas sofrem muita perseguição.
Mas a vida não é ruim, aqui. Só é muito fechada, sem identidade própria. Se tudo precisa passar pelo Estado, pela burocracia oficial, eles acabam se acostumando a esperar a ajuda de cima, em vez de pensar uma solução própria. E quando alguém melhora de vida, vai embora, morar noutro lugar, ainda que isso não aconteça muito. Veem aqui como lugar de passagem, em que moram por anos, décadas, encerrados.
De novo lembrando a favela do rio, cheia de rotatividade, de tráfico-milícia-políciacorrupta se imiscuindo nos pequenos poderes, e cheia de associação local, movimento de base, de mães se encontrando para arranjar solução, muito através de igreja, de reunião na paróquia como desculpa pra defender uma vida melhor. Aqui não sei de igreja, ou mesquita ou...
Não tem muita rotatividade, mas quando alguém melhora de vida, sai.
Concentrar os mais pobres num lugar só. Concentrar os problemas. E sua rede nos outros bairros?
cigarros contrabandeados
Como saber a história dessas crianças? Nasceram aqui. São ilegais?
o dilema dele.... posso fazer... mas foi planejado pra nao.
Eu estou em contradição. Aceitei ser diretor mas acredito na autogestão. É preciso criar diagramas, é preciso muita planificação.
- 
Albatroz André Aranha

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

pedalada pelada 
sabado 5 de março. nao percam! eu fui ano passado...
é legalmente permitido ficar pelado, de bike, por algumas horas no trajeto pela cidade.
dps geral pelado pula na praia (ou se veste)
imperdivel!
https://www.facebook.com/events/175751832785691/ (no rio, tem em outras cidades tb)
- 
albatroz, andrearanha
Mostra
André Aranha cara, quando eu fui, nunca tinha tido a experiencia de andar pelado na rua, quanto mais por algumas horas de modo que seu corpo relaxa e se acostuma. e aí é mt estranho, pq sua postura muda, ja que nao tem nenhum peso de roupa apertando a cintura, vc fica mais empertigado. vc se sente mais forte, com mais vitalidade, pedalando sua bike, sem nada pra esconder. entao tem esse lado de libertacao e descobrimento do corpo. tb é foda quebrar esse tabu: em outros paises topless ou nadar pelado n é criminalizado, mas no RJ a policia trata como atentado ao pudor. entao é uma defesa da liberdade do corpo. alem disso o evento é puxado por uma galera ciclista, frisando a fragilidade de uma bike no meio dos carros; ha algumas paradas em lugares em q ciclistas foram atropelados, pra fazer homenagem, e se faz coro pela cidade "atropelar ciclista / nao é acidente!". como a passeata ocupa a rua inteira pras bikes rodarem, vc vai mt rapido, pedalando no meio da avenida, e descobre como bike pode ser um puta meio de transporte.
é uma manifestacao mt leve e diferente, e te conscientiza sobre paradas q vc nao imagina. recomendo mt
e no final entrar no mar é mt bom, geral ta mt alegre, euforico msm.