domingo, 27 de setembro de 2015

Guerreiro, 
é o nome do meu cavalo
Guerreiro
é o nome do meu cavalo
O Marquês de Albatroz fincou sua bandeira de galinha. Está fundada a Ninharia!
Estatuto Um: Seremos anarco monarquistas.
O Marquês de Albatroz se chicoteava, deliciosamente
Ele cavalgava, centauro,
a sutura de seu corpo de homem
com as patas do cavalo.
Guerra: O estatuto do chicoteamento define as formas de guerra.
A federação de anarquias, como forma maior, consultará os trabalhos dos membros informes.
Alta fronte do centauro, armada da lança e do escudo, centauro em guerra, imperando sobre as patas velozes. O equilíbrio da justiça com o envenenamento, o ferrão.
Dentre a flutuação do raio e do azar, brilhar como um sol negro no segundo centro da nossa rotação.
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Albatroz André Aracnídeo

domingo, 13 de setembro de 2015

Ar
O sonho é uma realidade paralela... é o verso verdadeiro dos lugares. É onde descobrimos coisas, contato com deuses...
O prédio tem seu duplo no sonho, que se impõe a todos. O terraço do meu prédio, aquele chão sobre a nossa morada ao céu livre, nosso aulé - a origem da palavra aula, o terreno aberto ao céu - o aulé das nossas casas empilhadas. Esse aulé tem um duplo no sonho, ao qual voltamos em várias noites e que ressoa nas nossas raras idas àli.
Acordei e havia estado num lugar que já visitara noutras noites. Lugar poderoso, do elemento ar. E este sonho foi regido pelo elemento ar, que rege em mim toda uma cadeia de faces. Não querer ficar em lugar fechado. Amar o aberto. Ventiladores maravilhosos.
Podia voar, e o vôo é sempre difícil, às vezes subo, às vezes mal saio alguns palmos do chão ou só nado na atmosfera, preciso estar com uma confiança precisa no ar, na leveza. Estar regido pelo elemento.
Mas nesse sonho subi até o topo levando amigos subi reto, sem vento, só correntes de gravidade. Correnteza de gravidade. Pegar o elevador com meu amigo gui e dentro dele voar reto para cima, os andares passando aos milhares até de repente inclinar o percurso, e o cubículo do elevador se expandir em uma esfera. Levei o gui lá em cima, arrebentando os tetos até esse terraço imenso, o topo do prédio com vários níveis de terraço. Enormes construções de concreto que se erguem depois das nuvens em arquiteturas gigantescas, e voar ali no meio (voar é tão perigoso,é algo com a respiração, o frio do umbigo).
Acordei saudoso da realidade, da boa nova. Lembro já ter visitado essas arquiteturas sobre o prédio, imensas e desertas, cidade de deuses... enormes galpões da cobertura, vazios enormes gigantescos subindo até o topo do céu e a terra apequenando e ficando um globo lá embaixo e o céu de repente se dobra em abóbada ao nosso redor cheia de furos redondos, colcha furada do fim do universo onírico, e entrar num furo seria sair para outro real - no planeta do sonho universal não existe espaço sideral, é algo mais primevo, elementar, há o céu e fim.
Escolhemos descer dali do mais alto topo e vamos por um efeito de lentes saindo por dentro das cenas do topo da hierarquia dos poderosos / numa festa dos muito ricos o primeiro-ministro cheirando pó. De dentro do elevador esfera, tamos entediados lançando bolinhas de tênis dentro de trilhões de espelhos que caem na câmara presidencial ora toda esburacada por estes portais, nós zombando deles e a côrte dos dominadores em reunião de emergência, desarmada.
Descendo do topo do céu além-prédio, descobrir um palácio redondo de muitas portas, as sacadas dos andares voltadas para dentro para esse vão cilíndrico que elas contornam em espiral: mesmo palácio que os reis, luís XIV e tal, visitavam em seus sonhos há tanto tempo; ora esquecido, abandonado. As portas dão em galerias de bichos, de insetos, ou estão vazias, abertas... e em alguma delas estão guardados os antigos pactos antigos acessos simbólicos ao elementalismo do mundo (os deuses são a superfície dos elementos acionados em chaves com os livros do mundo).
E nesse lugar do sonho universal, o palácio das portas esquecido, os reis foram e fizeram pactos profundos que ora operam perdidos, alianças, anéis pulsando dentro de certos quartos no verso noturno do mundo. E num repente vejo aquele amigo taroísta apontando o Stromboli elétrico-demoníaco em que se colam caracóis, conchas, os fluxos de energia magnética (e vejo as dobras rosadas de sua pele de porco).
Falta forjar o anel profundo que está rompido, fundir um pacto muito profundo nas entranhas do solo do inconsciente universal e trazer à superfície da consciência o anel, a ligação evidente, a união entre noite e dia. Esta operação profunda, elemental na fusão da união que está rota, li no mago de terramar há 17 anos, sou eu.
Gosto bom de enfrentar o leviatã pelo símbolo: e o sonho não é real? se luto nele a grande batalha da primavera e volto purificado e certo nas energias, trago comigo efeitos reais da jornada onírica para o dia.
Poderosa visita à pirâmide incal branco onde vivo.
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Albatroz colhe andré ar

domingo, 6 de setembro de 2015

Gallo-romanos
Sou Luís XIV adentrando os pórticos imensos e cobertos de estátuas de pobres segurando estátuas de santos e anjos segurando estátuas de cenas bíblicas, caminho sobre o tapete vermelho para minha coroação pelos bispos e cardeais e papas do divino feudal nestas galerias altíssimas. A catedral é oca e ressoa os passos, nossa voz é reduzida aos murmúrios e somos tão pequenos, apequenados nesta dimensão comprida, nessas câmaras acústicas de ar límpido e parado.
E quando vai dar as seis da tarde ouço um lamento, um canto piedoso que preenche o vazio inteiro daquela catedral de reis. E seguindo essa voz, encontro um punhado de fiéis ajoelhados ante a estátua da mulher com a criança, da jovem mãe, e é um senhor ajoelhado, uma pessoa comum, que canta com voz grave e ecoa por toda a construção. É música, acolhedora fé, e por um instante aquele lugar é humano e sagrado.
Todos que moram por perto respondem às nossas perguntas dizendo: essa catedral, não é a verdadeira, é uma reconstrução e a cidade é inteira falsa, foi morta e é apenas uma reprodução. O rancor vivo, mas essas pessoas, esses velhos repetem um trauma que não viram, todos nasceram após o cataclisma ancestral. Só conheceram a majestosa reprodução, nunca viram o fogo ou as bombas dos seus avós. Mas por toda parte, há túmulos, marcos, e o mapa diz simplesmente: monumentos aos mortos. Em cada vilarejo, comuna, pequena vila de casas camponesas - desses camponeses ricos que fazem vinho e queijo e champanhe finíssimo há dezenas de gerações, artesãos do luxo da côrte e da aristocracia - perto de cada igreja ou mesmo nas casas e praças há placas registrando algo que faz 70 anos: fuzilamentos e bombardeios e assassinatos e perseguições dos seus antepassados. Patriotas - fuzilados por estrangeiros - são os personagens tão repetidos destes marcos onipresentes, rodeados de rosas e bandeiras iguais.
Eu lia um livro mórbido, da estátua rocha imortal, da necrópole que jaz nas entranhas da metrópole: e um conto das catacumbas e ossuários dos pobres, removidos de cemitérios em grandes obras e empilhados em prateleiras e prateleiras nas galerias subterrâneas sob a Paris de monumentos; a cidade morta-viva, edifícios da memória petrificada, colunas e pedra e pedra e pedra lapidada pelos pobres sem nome e erigida em ídolos eternos. E seu fascínio pelo Egito, Napoleão saqueando faraós daquelas civilizações milenares dedicadas à construção de túmulos, povos inteiros escravizados no deserto ácido para erguer as maiores homenagens à morte que já se viu. E o conto do cemitério de criptas e mausoléus nalguma cidade egípcia que foi reinvadido por pobres e favelizado, os nomes dos mortos riscados e substituídos pelos vivos que agora ali moram, e a polícia adentrando a necrópole para correr sangue por cima das lápides esquecidas. Cidade morta-viva petrificada na sua realeza inumana.
E nas beiradas da cidade vemos surgirem edifícios mil mais altos que a catedral ou o arranha-céu dos bancos: monumentais contêineres, majestosos galpões em série, um atrás do outro iguais: caixas quadradas altíssimas sem nenhuma pista do que contêm; às vezes um cilindro imenso, uma torre cilíndrica ou cinco torres cilíndricas e um tubo colossal dando em mais galpões. Festa da geometria pura, da forma sem conteúdo, metálica, paredes finas e vazias, concreto até o céu ao lado de montes de areia derramada, dunas de brita, de grãos ou algo minúsculo a granel, matéria amorfa; ao lado de pilhas infinitas de grossos canos de concreto, de material de construção e o vazio, ninguém habitando, imensos castelos de formas vazias por toda uma periferia interminável.
Seguir e de repente cruzar com outro daqueles campings, parkings, não sei que nome dão, longo gramado coberto de trailers e trailers e trailers brancos todos brancos ou cinzas, trailers brancos e toldos cinzas e carros brancos e caminhonetes cinzas a perder de vista, cenário impressionante do quê? duma favela nômade? mas não são ciganos, são pequeno-burgueses sem grana para a terra cara para as construções aristocratas de pedra lapidada para os monumentos à arquitetura dos reis. É isso o camping deles, imenso estacionamento de carros e os carros ocupam a cidade inteira, tantos tantos carros bonitos novos de última geração por toda parte. E os prédios baixos e a população pouca e as ruas largas dos aristocratas e por isso os carros em enxame povoam cada quadrado aberto e são enxames de metal agressivo. A população de carros e carros e carros, e eu tenho sonhos dos carros guinchados copulando e procriando e tomando as ruas em um fluxo sem objetivo que não circular o aço polido e a fumaça. Por quê não têm os carros uns bancos de praça em seus capôs? e aí teríamos bancos por toda parte e a cidade seria alegre, e não um estacionamento gigante.
Mas todo meu rancor de colonizado foi só fumaça sem alvo, que é uma mentira que todos se contam, de que ainda há reis, a côrte linda do rei sol em seu gosto aristocrata pelas altas artes, essa fôrma sofisticada para mais consumo padrão, em série, indústrias padronizadas e carros e caixas da mesma neurose que atravessa todo o globo. Então de novo, aqui a guerra é a mesma: descobrir paz sem saber onde pisa, aceitar ser joguete da sorte, louvar a música e a saúde do corpo, ouvir.

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Albatrros ãdrre arrãnh





(ou ...gigante. Só vi barracas de acampamento foi sob os viadutos, os sem-teto e sem-carro e sem-barco vivendo acampados sob a ponte.

Eu fiquei tão triste de descobrir que eles vivem sob ditadura, que o meu rancor colonizado não tinha tanto alvo, que é uma mentira que eles se contam, de que são reis, a côrte linda do rei sol aristocrata em seu gosto pelas altas artes. E se as colunas imperiais dão abrigo a mais uma agência de seguros e sob os arcos centenários há a moda americana e as butiques padronizadas iguais às da minha terra natal, nada exibiu tanto o contraste do que ver num restaurante metido uma tela passando jogo de futebol emoldurada por um arabesco de ouro ricamente trabalhado, a fôrma da aristocracia para mais consumo padrão, em série, nessa rede que atravessa todo o globo.)