quinta-feira, 27 de junho de 2024

POR QUE SECO PRIMEIRO O ROSTO?

Quando saio do banho, num dia frio, a brisa mínima do banheiro já me faz agarrar a toalha, com ambas as mãos, para me secar o mais depressa possível. Mas em vez de me envolver nela, protegendo meu peito, pescoço, pulmão que sei eu - a primeira parte que eu seco é o rosto.
Serei só eu, ou todo mundo? Que importa, o fato é que é assim que eu faço. Um banho quente ou gelado, dá igual, um dia frio ou calorento, o rosto primeiro. É como se secar fosse sair da água, e óbvio fosse liberar boca e nariz primeiro. Secar primeiro o peito, então, como testei, mantém a sensação de imersão - e frio desprotegido - enquanto não seco o rosto.
De fato, conforme sobe o frio, subo a montanha ou o pólo e faz muito frio, vão subindo também as roupas, de baixo e de cima, partindo da genitália, para o torso, depois os membros, e os pés também, sapatos. Muito frio e vem redobrado, é mais camadas e surge o gorro, cachecol, as luvas (talvez de início com buracos para os dedos, e depois sem eles). O rosto é o último, e é o mais difícil de cobrir, máscaras e óculos.
É que o mapa do corpo não é bem como uma foto simples de anatomia. Ao perguntar os seus caminhos, o corpo inicia pelo rosto. E pelas mãos, pescoço, cabelos, e só em seguida o torso e tudo. Debaixo da terra irrompe um caule e folha, é o rosto saindo por sob camadas de roupa e de água, que alívio!
Mas será que, pelo bem da razão, o rosto devesse ser secado depois? Proteger peito e pescoço, calcular exatamente a batalha contra o frio, deixar sensações e tradições de lado. Qual o principal a ser secado? O rosto deve ser ignorado! Calando-me, obedeço à fria matemática de graus celsius. Se sinto frio posso cobrir o rosto, que importa visão e tantas manias?
Mas a razão que vem de baixo, do corpo, é maior e abarca esses filosofemas em um abraço cálido e felpudo. Imagens de anatomia e cálculos fahrenheit podem brincar de entender, mas o sangue corre pelas veias. O corpo não é sua imagem, ele é distorcido, e o rosto é tão grande e perigoso que eu preciso secá-lo primeiro, sob o risco de me afogar.
André