quinta-feira, 31 de agosto de 2023

o que você precisa descobrir
cidade negra
ta-dan
tarararara
na verdade era
o -invada sua casa coração-
please dont stop me now
tarefa do dia:
arrumar as plantas para que eu páre de chutá-las enquanto me embalo na rede
a rede. a grande máquina de conforto
a chave phillips diante do parafuso
aparafusadeira elétrica (diabos, perdi meu kit de chavinhas)
-ou os abutres roubaram-
há coisas que é melhor não mencionar
pois afirmamos algo
não afirmamos o contrário disso
se não afirmamos, não impostamos isso. não é graças a nós que isso está posto
depois de posto, objeto
ob-jektum (jogar sobre)
(vs. jogar pordebaixo o sujeito substantivo assunto da questão
tarefa número 2: o que é o dinheiro? doá-lo? torrar as poupanças?
-imensa fogueira potlatch da despesa global-
-a macro despesa do ciclo do sol-
de volta à cigarra e à formiga
era sempre sobre o verão e o sol
hélio hílio hyperiom
elã ela ele o gás nobre a letra L de luz cercada de éter e da altura do céu e das núvens Superiores (o que está no alto)
o Astro-Rei da astronomia
e a economia não é apenas um sub-ramo da astronomia? da geonomia (a ciência impossível)

- discordo: como dizia newton, as leis da terra imperam nos céus. o que está no alto é como o que está aqui, embaixo: não há nada lá em cima, newton ensimesmado em seus espelhos e máquinas 

sábado, 19 de agosto de 2023

- Meu amor, você viu a fralda?
- Só Xixizão, mais uma vez.
- Já faz 48hs que é só xixizão. Ai meu deus... O que ele estará preparando?
- Amor? Vamos comer mais mamão? Tô brincando...
- Será que mantemos a fralda de pano? Ou esperamos isso "acontecer"?
- Ainda não entendi em que lixeira vai a fralda de pano usada?
- Cuidado que pode sair um jato! Existe manusear bebê de várias formas, mas também tem a modalidade que é isso acontecer com ele cagando. Dito isto, elogiemos os "quadrados de algodão". Que tecnologia finíssima.
- Garrafa térmica para ter água morna em sua bundinha...
- Em um pratinho de cerâmica! As fraldas de pano são lindas
- Ele fica parecendo uma "coxinha"!!!! Redondinho embaixo
- Isso foi um arroto?
- Odiei aquele vídeo do "o que fazer se ele estiver engasgando". Melhor ele não engasgar
- E a enfermeira que falou que você não pode dormir, a qualquer barulho dele ele pode estar engasgando? Que sempre tem que ter luz acesa pra poder ficar verificando?
- Ah... Isso era só no início... ?? Não vamos entrar nessa não
- Tenho pensado que a grande questão é ter um sistema de sono que não envolva contato físico direto: uma rede, que eu balance sem estar dentro dela...
- Mas ele é tão pequeno!!!
- Em que velocidade isso cresce? Planilhas de fraldas cuecas e meias...
- Amor, precisamos de uma máquina de lavar nova?
- Querida para mim bastam os 3 varais. Isso é genial, mesmo.
- Ok agora enche a minha garrafa, preciso beber 4 litros de água!!
- Amanhã vai fazer sol!!! Vamos tomar!!!!

terça-feira, 15 de agosto de 2023

a mamada é um beijinho
nós ficamos dando mamadinhas
o músculo da sucção
da língua
como uma galinha ciscando milho
meu filho acha que está caindo
estica suas mãos ao contrário
como reflexos
o gatinho que esperneia bombeando as tetas da mãe
lobas de 6 tetas, 8
e os lobinhos pendurados
seus olhares de repente. de olhos muito arregalados, contrações aleatórias no rosto gerando expressões faciais fortíssimas
cabecinha pequena,
de pescocinho bambo

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

coisas dessa vida de pai

Fiquei 5 dias seguidos com a mesma roupa. No meio tempo o pessoal trouxe várias outras mudas de roupas: para o bebê, montes, e até algumas para a mãe, e meias. Eu pedi meias, especificamente: e me trouxeram meias de bebê. ah, você existe? verdade que eu também me esquecia de me incluir nas listas...
A crítica usual ao pai na maternidade é uma em que mantenho a atenção em mim, sem dar atenção a elas (mulher, criança). Não é muito comum retratarem a cena "anterior": a cena em que eu pai não sou nem subjugado; sou esquecido - em uma cena absolutamente centrada nelas.
Vou contar de mim, pai, também porque sinto meu ego ferido ao simplesmente não fazer parte da história. Ser inútil.
Constantemente eu era esquecido no hospital. Hoje esqueceram meu almoço. Chegou 2hs depois de telefonarmos.
Quando desci para ir ao cartório, na volta fui barrado pelo segurança e obrigado a me identificar na recepção, pegando uma fila. Sendo que eu acabava de ter passado por ele.
Logo em seguida, no final da fila da recepção, cheguei falando "meu FILHO está aí" e responderam "qual o nome da mãe" "W" "e você é quem" e realmente, que energúmeno eu era de achar que deveria ser reconhecido como pai (o nome da criança no sistema é "RN de W").
(Enquanto isso, a mãe estava de pulseira, fortemente controlada no mundo do plano de saúde, acho que nem podia sair sem que fosse dada alta. Houve um pequeno ritualzinho ao final, em que lhe cortaram a pulseira).
Eu fiquei muito puto com esse episódio de me barrarem (depois aconteceu de novo), porque na verdade ele era o topo de um iceberg de cenas que aconteciam.
Ser realmente inútil em uma mundo das mulheres. Nessa peça, poderia ser qualquer pessoa na minha posição. Não importava a minha posição. Realmente, importava a bebê
e importava a mãe já que ela é essencial para a bebê
e importavam as enfermeiras e médicas que debatem e ensinam e conduzem e fazem isso, e os médicos que se inserem nessas maternidades de mulheres e cuidados dos novos seres, cuidados domésticos
Mães no centro. Não estão em oposição a pais. Existem, antes dos homens. Os homens não estão nem muito bem definidos: algumas bebês têm piru, algumas crianças, algumas pessoas, qualquer coisa pode ser o pai; afinal no processo todo o homem só existe "especificamente" pela sua faísca; no resto ele não está nem de longe no centro das atenções; ele é esquecido; ele nem é muito bem definido: é qualquer coisa que vinha flutuando por ali, o mulher na munda de mulheres? pau duro na massa de mãos-mães-irmãos-irmães mulheres-milharal-mil-molho de mulheres)
Questões de gênero. Ou da gênera feminina. Acho também por isso usar gênero neutra, não acha?
(O grande debate da decisão do sobrenome afinal. O nome é fácil: é qualquer coisa. O sobrenome é uma grande decisão de cercas entre famílias, e projeções das filiações dos pais.)
As refeições dela, eu tinha também direito, mas ela tinha ainda "colação" após o café da manhã (davam muito café e açúcar, por alguma razão? e laticínias) e lanchinho da tarde e até mesmo chá noturno; eu passava fome, mas minha família nos encheu de lanches
Em todo o fuzuê agora em torno da mamada, da lactação, do aleitamento, da amamentação, da sucção da chupada do leite do seio do peito da auréola do bico... e eu não sou nada, não sei nem tocar direito naquilo, nem fui convidado...
Eu mesmo, que no direito materno sou definido pela presença constante doravante... Que no direito paterno sou uma espécie de dono, proprietário.
Ao menos a posição no parto - em que eu fiquei atrás dela, e ela se apoiava em mim entre as contrações, antes de me abandonar no momento final, em que estava concentrada no que estava à sua frente, ou embaixo; o que vinha à luz de entre sua dor e seu corpo baixo, sua sentada espreguiçada de dor cólica, força espremida - ao menos essa posição (em meio à sangueira - de que normalmente desmaio, mas ali isso foi por demais banalizado; e de sua buceta saem flocos de pele e sangue coagulado, ou coisas densas como um fígado mas que se desfaz antes da loucura que é a placenta (a árvore da vida, em que o fruto é a bebê - a placenta (que eu plantei? em uma pré-menstruação dela? com o pólen que trouxe da árvore de minha mãe?) a placenta de chumações de sangue cujo tronco está esticado como uma bolsa de saco plástico com seu líquido amniótico onde a bebê flutua com sua pele mergulhada no líquido (a bebê não respira, seus pulmões são colapsados; o grosso e veiudo cordão umbilical (da grossura quase de um de seus braços) que lhe fornecia ar ao nosso peixe de aquário) bebê coberta de uma gordurinha branca vérnix... placenta banhada pelo sangue venoso, diastólico do contraponto da pressão, com menos oxigênio e hemáceas de feto - as quais ele tem de trocar em poucos dias após nascido, transfusionando todo seu sangue de bilirrubina em hemácias de ser que respira - e assim praticamente "trocando de sangue" na primeira semana (a falha desse transfusionamento é a icterícia cujo combate requer a sol, o luz)...
- Ao menos nessa posição de parto dela eu "tinha" uma posição (ao contrário da de 4 apoios, ou deitada de barriga para cima - nesse cócoras haviam se lembrado de me incluir no ritual; atrás dela onde eu não atrapalhasse (apenas lhe apoiasse o entregar-se, lhe soprasse palavras); enquanto nas outras eu era simplesmente esquecido; um saco de lixo; um trapo, um obstáculo na cena: que não sabe fazer nada, que não sabe especificamente bem motivar ninguém naquele contexto, que não sabe meter a mão
Houve um grande debate entre médicos sobre a minha tentativa de ser ela a primeira a ir para casa. Minha irmã que me aconselhou ceder (a médica defendeu que W fosse para casa, a enfermeira não se posicionou abertamente, mas o médico que trata do garoto (o pediatra, um pai - mas poderia ser a pediatra, uma mãe)(como poderia ser o médico obstetra, o enfermeiro obstétrico, o masculino da obstetriz, o masculino da parturiente, o mãe... será?) esse médico me deu uma esculachada, que eu estava querendo "sofrer por ela" enquanto ela que tinha que encarar: que a gravidez não é fácil mas ela é guerreira e vai enfrentar a parada - que aliás não voltar logo pra casa não é a cena horrível que eu ficava pintando, tentando aumentar meu valor - eu que claramente estava me forçando e deveria sair para descansar, e dar uma volta - eu que estava "competindo" com ela sobre quem era mais bravo - tentando, finalmente, chamar a atenção para mim
Sim, (reflito agora, em meio à tessitura de chumações dessas faíscas lembranças fritando na língua) eu tenho que voltar à posição em que não carregava tanto as malas para ela: porque desde a gravidez, ela foi se tornando mais passiva enquanto tudo eu acionava... Até que agora, é tudo sobre ela e sua fúria de hormônias e a bebê gritando; e toda a revolução do lar (da lar) no império de sua majestade, a bebê