Este livro se ergue contra o Jeroglifo Monádico de John Dee. Aquele livro define a oposição principal (a primeira, de onde derivarão todas as outras figuras) como a do círculo e da reta. E a partir daí, dominando tanto o círculo como a reta, parte a abordar os diversos casos das duas posições: uma arquitetura de conceitos que recobriria o mundo, em suas oposições principais. Calibrar todo dualismo, inseri-lo no mega-esquema balanceado e dinâmico.
Mas no nosso livro, neste livro de que estamos tratando, a autoria se desvencilha dessa tradição dos imperadores britânicos. A oposição dos dois termos - círculo e reta - não é o maior mistério. O maior mistério pode ser a própria reta, irreal, ante o círculo, orgânico - e daí a entrarmos falando das retas e do mundo abstrato que toma metade do real. Teríamos o vácuo da matemática reta ocupando metade da oposição principal.
Mas neste livro não, desvencilhado do jogo de poder que a posição geômetra faz, com suas retas e maquetes, miniaturas do mundo, retas de arquitetos traçando planos mentais...
Essa autoria enxerga o mistério anterior à reta, que é o do próprio círculo em si. O próprio círculo já contém o dualismo, não precisa da reta. No mais, as retas não existem: o mundo é curvo. Não, a oposição primeira não é do real com o abstrato: é de duas facetas do real: o real existe em colisão de dois princípios materiais. Todo círculo possui uma cerca redonda, mas essa cerca também define um centro. E o centro da própria cerca é a abertura, o olho, a tradução do dentro do fora, atravessar a porta. O círculo impõe já desde antes, tão-somente por existir, um dualismo poderoso. Centro e Cerca, cetro e... tamanhos, corpos, a extensão de um perímetro: uma área, um volume no espaço, um sólido, uma presença possivelmente imensa.
O conceito mais simples de se ver é então C, o conceito. E o livro opta por iniciar pela letra C.
A hipótese do livro é então apresentada: dentro da letra C vigoram os dois princípios M e P que fundam a manifestação dos dois pólos de C: o centro (a boca, o cu, o sol, o olho, a porta, o interruptor na parede, o caminho correto) e a cerca (toda a pele do corpo)
Um pólo acertado então entre a operação de R (nos centros) e T (na cerca, nos tecidos em que R impera, ligando com sua linha entre centros-furos).
Estas são as letras terrenas, que pulsam em C, antes mesmo de se colocar a questão da reta. "Antes", pois num sentido originário, "Fundamentalmente", "Empiricamente", "Diretamente". Sem a abstração, já há essas letras: c e C (P e M) R e T
Para chegar na questão da reta, da Linha da Luz, do que vem do alto, aLTo. O "em cima", essa noção espacial autoevidente para um ser que caminha sobre T, a terra... O vácuo do céu, seu abismo. Para chegar em L, só a vemos através de F, o forro limitante da finitude, e que se expressa em L ser um efeito expresso em F, impresso em F, a ponto de L tornar-se uma miragem fantasmagórica. E o materialismo toca no imaterial. Toda a roupa que o imaterial veste...
Eis o segundo postulado, após a hipótese M e P pulsando em C.
Que L vem do inalcançável, justamente, vem do além de F a nossa forma humana. Que L é por definição inalcançável: é o mistério, as deuses.
E mesmo tendo dito isso, o livro propõe exatamente isto: cobrir de F o caminho de L, ocupar a língua perfeita, ser o sol com os olhos, subir às alturas materialistas construindo a Babel Verdadeira: a cidade-biblioteca da língua vestida, encarnada pelo povo que aprende a se comunicar com a língua verdadeira: peças de letra que se encaixam formando uma vacina contra toda leitura mitológica: análise combinatória de letras. Com minhas letras, jogo com 7 conceitos cujo eixo é C e os pólos P e M ressoam por toda a estrutura, ecoando ao redor de C como R em T, ecoando em L sobre T, ecoando em L sob F, ecoando em C em T...
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nosso mundo atual é fundado na representação valendo pelo real. A maquete, o modelo, a ideia - essa versão decalcada, essa sombra vodu, alavanca de arquimedes, MINIATURA que contém tudo que a versão empírica, direta, possui de estrutura e sentido, deixando de lado apenas o ruído, o preenchimento, a segunda metade de amorfo e irracional... como se se pudesse fazer essa separação, quantos % é de cada lado!
este bibelô de 7 letras, então - o livro que estamos lendo - pode servir a categorizar toda mitologia e todo dogma, toda verdade científica: é uma máquina de dissecar em 7 elementos extremamente polarizados e estruturados, em dinâmica que expressa o real
mas será este o seu uso?
discutir cosmogonia, e mais e mais princípios de pensamento (a morte do autor, a matrilinearidade jorrando)