dois + zero + um + sete
Ontem espiava uns papéis antigos e vi em 2015 esse anúncio do fim do lar natural.
Dois
anos atrás, escrevi para mim mesmo que iniciava a era nômade. Metamorfose. Abertura duma nova carta. Como ocorrera sete anos antes, iniciava um momento cinzento. A lua nova, sem luz; o ponto zero entre os ciclos.
Saída do lar natural, novos lares. Saída dos pais, que mudaram para longe.
Agora fechou aquele ciclo.
Fim da faculdade, de ser aluno, numa academia. E das suas extensões: terminou o emprego na economística. Fui assistente de pesquisa, e sorvia o grande conhecimento, na fonte, passivo. Só nos últimos meses comecei a balbuciar algo novo. Pedagogia. Educação econômica. Dizer o que aprendi, sem jargão, sem nada, simples. Educação, pedagogia; que é a redescoberta do conhecimento. Reaprendizagem.
Só não me chamo mais economista, só não me chamo mais nada. Livreiro. Livrista. Livro.
Ano estranho que se abre.
Uma nova carta: já principia com um tombo. Generosa lição da cachoeira: atente mais, que é cuidado. Semana depois a máquina me mordeu. Enorme engenho de rodas polias engrenagens, enganchou o meu dedo, pinçou ele, deu uma esmagada assustadora. Mas não quebrou. Obrigado pelo susto. Vou estar mais atento.
Tentei voltar a fumar mas já de cara percebi o caminho. Não rola. O lento aprendizado do ano passado, continua em vigor. Estou aberto demais.
2016, foi ano nove, ano de fim de ciclo. Nove novo. Fez um belo esboço de vida nova, pra se impôr contra o ciclo que terminava. Mas agora, o esboço continua, e se afirma. E o passado desmancha.
Agora ano um, não tenho visão do alto, não tenho nada. Como espuma no mar, meus antigos eus se desfizeram. Não sou um economista poderoso. Não sei o que sou. Me desenxergo. Desfaço: saí do mapa. Planejei, já há tanto, essa guinada. Fiz o triângulo favela-arte-academia, construí ele, fiz ele girar e fundir. E agora ele ficou para trás. Vivo num pequeno espaço que cuido como uma plantinha crescendo. Vou a pé pra lá e quase não ando de máquina. Cuido da casa, com telhado e planta pra regar. Escrevo e cuido da casa.