terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A CIGARRA E A FORMIGA, UM CONTO COLONIAL
Abaixo as roupas de baixo! Pra quê tanto pano? Invenção europeia... 
Aqui faz calor, ô se faz. Quanto menos pano, melhor. 
Sutião? Par de meia? Cueca apertada? Pra deixar encolhido, quentinho?
Basta de roupas sobre roupas e mais roupas, abafando o frescor da pele! 
Vejam os elefantes ao sol, com orelhas que são peles enormes dissipando calor. 
Pelos tecidos soltos, leves, que são só sombra e ventilação.
E os colchões de cama, que se colam no corpo, toda-noite, de suor? Vocês acham que vêm daonde? Estou farto da nossa cultura padronizada para um país frio. Se cair neve, temos cobertor, lareira, forno doméstico. Mas e no verão? Quero uma esteira de palha para me deitar, por onde o ar passe... Ventilação! Circulação, janelas, venezianas... Ven-ti-la-ção!
Aí me vêm defender, com unhas e dentes, enroscados em camisas de manga comprida, sapatos fechados e tantas invenções do “vestuário formal” do “mundo do trabalho”, que cerremos o vento e liguemos o gela-ar confinado, condicionado, trazendo casacos na mochila e sonhando hidrelétricas pra pagar essa conta de luz...
Turistas...
Conhece-te a tua terra, povo do verão
-
Albatroz porquinho da palha, andré

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Procuro, procuro, a palavra certeira, a frase, o ponto exato do corte-começo do texto. Por onde o que é plano se torna Linha, sucessão,
desenvolvimento, Combustão.
Feito o furo, é só seguir seu percurso, o pior já está feito. Um corte, a caneta fura o papel de repente e a tinta começa a jorrar.
Mas onde deve ser lançado? Onde o furo, onde a brecha, a falha que permite entrarmos, picareta em punho, dentro do quadro?
Estou sentado, pensamentos ao vento, nuvens passam e eu atento, com minha armadilha de pescador.
Lancei um anzol no céu, pra pescar o sol - e de quando em quando, me sobressalto, faço menção de bater a faca: é ali!
mas não, o momento se esvai, ou nada pior que resvalar o cinzel na pedra, riscar o duro. Tomado o ponto falso,
a caneta quebra, a ideia morre... procuro, procuro, o tema, o contorno, a figura falhada que rebenta num fio de pedaços,
tornar-se então isto, um percurso, um gesto, uma jogada de corpo no abismo, um desfiar da nuvem em novelo, algodão,
e esticá-lo, e cozê-lo, tessitura do texto.
- Albatroz André Aranha

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

O CARA ESTAVA nU EM PLENA ESCADARIA DA CÂMARA
(Cinelândia, treze do doze)
Entre o Teatro Municipal e o metrô, Tainá, toda pintada
piscava com penas azuis em seus cílios
saía do espetáculo, pelas escadarias
E viu a bermuda arriada,
o cara, deitado na escada
da Câmara! esfregando o rosto dormindo
No chão.... e a polícia lá... e nada de nada
hahahahahhahaha
O rei está nu!
só resta decapitá-lo
- Andrelbatroz Costa Alberanho BOU.finitt